Novo vazamento do WikiLeaks diz que Lula é "obstáculo" à Boeing
Agências internacionais.
O presidente Luis Inácio Lula da Silva tem sido o maior obstáculo à tentativa da Boeing de fechar um contrato bilionário de venda de 36 caças ao Brasil, segundo despachos diplomáticos dos EUA liberados ontem pela ONG WikiLeaks.
Em um memorando enviado em janeiro deste ano para o Departamento de Estado, a Embaixada dos EUA, em Brasília, afirma que Lula "não guardou segredo sobre sua preferência pela Dassault", referindo-se aos aviões franceses que concorrem pelo contrato. A mensagem diz ainda que Lula "está relutante em comprar qualquer nave americana" e que a Boeing enfrenta "forte oposição política".
"Sabemos que o F-18 Super Hornet teve melhores avaliações técnicas da Força Aérea Brasileira (FAB). Mas ainda resta o formidável obstáculo de convencer Lula [disso]".
Em um despacho anterior, publicado pela "Folha", o comandante da FAB, brigadeiro Juniti Saito, teria feito uma afirmação que corrobora com o argumento americano. Ele teria dito que "não existia dúvida, do ponto de vista técnico, de que o F-18 era o melhor avião".
Conforme o Valor noticiou, a demora na decisão do governo sobre o novo caça da FAB, prevista para ser tomada até o final do ano, levou a Boeing a desencadear uma ofensiva junto às autoridades brasileiras para tentar desbancar o favoritismo do Rafale, o caça francês que é contestado pela aeronáutica. O lobby da empresa tenta convencer os brasileiros de que a empresa não está vendendo apenas o caça F-18, mas o "Global Super Hornet", uma aeronave a ser desenvolvida e construída com a ajuda de todos os parceiros que compraram o caça em todo o mundo.
O site da WikiLeaks, do australiano Julian Assange, chegou a ser retirado do ar por algumas horas na semana passada. Ele é responsável pelo vazamento de 250 mil documentos secretos da diplomacia americana - informações que estão sendo divulgadas aos poucos pelos veículos de comunicação.
Washington alega que as revelações colocam em risco a segurança nacional. Uma investigação criminal foi aberta pelo Departamento de Justiça contra colaboradores.
As revelações dos bastidores, no entanto, continuam pipocando. Dois outros memorandos divulgados também ontem causaram furor na imprensa internacional.
Um deles acusa o governo chinês de apoiar hackers chineses que invadem programas de agências governamentais e empresas americanas - entre elas o Google. O despacho, divulgado pelo jornal "The New York Times", mostra o envolvimento de militares chineses do alto escalão. "Do ponto de vista chinês, um conflito global já está em curso na esfera cibernética", afirma Dean Cheng, especialista da Fundação Heritage para assuntos políticos e de segurança.
O outro despacho refere-se a um dos maiores aliados dos EUA no Oriente Médio - a Arábia Saudita. Os memorandos revelados pelo WikiLeaks mostram a "frustração da Secretária de Estado Hillary Clinton pelo fato de os países árabes, liderados pela Arábia, não agirem para interromper o financiamento de extremistas islâmicos".
"Mais precisa ser feito uma vez que a Arábia Saudita permanece sendo uma base de apoio financeiro para a Al-Qaeda, Taliban e Lashkar-e-Taiba", diz Clinton, segundo o documento. A secretária americana ainda diz, no mesmo despacho, que os doadores sauditas são "a fonte mais significativa de financiamento a grupos terroristas sunitas no mundo inteiro".
Qatar, Kuait e Emirados Árabes Unidos também são citados como países financiadores de terroristas.
Julian Assange, dono da ONG, é acusado de estupro na Suécia. É procurado pela Interpol e está foragido. Seu advogado afirmou ontem que ele continuará na luta para evitar a extradição para a Suécia e que a ação é uma manobra política que visa silenciá-la.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP