Lula: ação no estado mudou a cara do país
Em visita à capital - mas longe do Alemão - presidente ainda elogiou as UPPs e disse que elas não são dispendiosas: "Caro é manter uma tropa no Haiti".
Igor Silveira.
Quase uma semana após a invasão de homens da polícia e das forças armadas a conjuntos de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve ontem na cidade. Mesmo assim, o mais próximo que chegou do Complexo do Alemão foi a passagem pelo Galeão — aeroporto internacional do estado —, de onde partiu, no fim da tarde, para a 20ª edição da Cúpula Ibero-Americana, realizada na Argentina. Lula, porém, falou, ainda na capital fluminense, dos últimos episódios de combate ao tráfico de drogas. Em entrevista a correspondentes internacionais, o petista afirmou que a ação das autoridades contra os bandidos ajuda a melhorar a imagem do Brasil no exterior, e que a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) deve ser repetida em outros lugares do país.
Em um hotel da Zona Sul do Rio, Lula conversou com os jornalistas. Além de um balanço dos dois mandatos à frente da Presidência, o petista também abordou a violência que assola a cidade há, pelo menos, três décadas. De acordo com o presidente, a operação contra traficantes — que apreendeu, em 12 dias de confrontos, 518 armas, quase 35 toneladas de drogas e prendeu 118 pessoas, segundo balanço da Polícia Civil — teve o apoio popular porque foi bem planejada.
“Todas as vezes que se tentava fazer qualquer coisa nas favelas do Rio de Janeiro era um conflito, parecia uma agressão ao povo da comunidade. Desta vez, o governador tomou uma atitude muito bem arquitetada e o povo nas ruas estava aplaudindo uma ação do governo. Isso melhorou um pouco a imagem do Brasil”, ressaltou Lula. “Os correspondentes mais velhos sabem que antigamente só se falava do nosso país por causa do Carnaval ou da Copa do Mundo. Agora, a situação mudou”, completou.
Inauguração
O presidente também comentou os bons resultados das UPPs, que já foram instaladas em quase 20 morros do Rio de Janeiro. Lula destacou que o projeto tem de ser feito em outros lugares do país independentemente de quanto custe. “As mesmas pessoas que passam o tempo inteiro cobrando que nada é feito para acabar com a violência diziam que era caro quando começamos a fazer. Caro para o Brasil é manter uma tropa no Haiti e a ONU não compensa o que a gente investe lá. O sucesso das UPPs pode ser nacionalizado. Vai custar caro? Vai, mas eu estou convencido de que é mais barato do que deixar traficantes envolvendo crianças, adolescentes e tirando a tranquilidade das pessoas”, disse Lula.
Essa não foi a última visita de Lula ao Rio de Janeiro como presidente da República — seu mandato acaba dia 31. Ele deve voltar ao estado nas próximas semanas para inaugurar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão — incluindo o teleférico que ligará as partes alta e baixa do morro — e para entregar casas do programa Minha Casa, Minha Vida, na comunidade da Rocinha, a maior favela da América Latina.
Caçada em Porto Alegre
Policiais militares do Rio Grande do Sul estiveram, na manhã de ontem, na Zona Norte de Porto Alegre, onde realizaram uma operação para capturar bandidos do Rio de Janeiro que teriam fugido para a capital gaúcha. Eles estariam escondidos em uma localidade chamada Vila Nazareth. Cerca de 70 homens da PM foram encaminhados à área e, com a ajuda de cães farejadores e de um helicóptero, apuraram denúncias de que traficantes locais mantêm contato com integrantes de facções criminosas fluminenses.
Também ontem, mais dois foragidos do Complexo do Alemão foram presos longe do conjunto de favelas. Estes, porém, ainda estavam no Rio de Janeiro. Denilson Eduardo Flor de Freitas, o Dudu da Fazendinha, 32 anos, foi preso no município de Vassouras, a cerca de cem quilômetros da capital fluminense, e Wellington Roberto de Oliveira, 26 anos, o Dedinho, foi preso na Zona Norte da Cidade. Dedinho contou à polícia que fugiu da comunidade pelas galerias de saneamento.
Apreensões
Na rotina de varreduras no Complexo do Alemão, no início da tarde de ontem, a Polícia Civil apreendeu mais armas e drogas. No meio da mata, na favela da Fazendinha, policiais encontraram uma submetralhadora, além de alguns tabletes de maconha.
Pela manhã, o esquadrão antibombas do Rio foi chamado para examinar um objeto estranho que foi deixado na esquina da avenida das Américas com a Estrada do Magarça, em Guaratiba, na Zona Oeste da cidade. Depois de detonarem o artefato, os policiais viram que se tratava de uma ogiva, usada como munição de bazuca.
Longe do front
Os soldados das forças armadas que moram em alguma das localidades ocupadas pela polícia no último fim de semana não participaram das operações, segundo informou o Exército. O comando militar explicou que houve uma pesquisa para identificar quem morava na área. A medida teria sido tomada antes mesmo do anúncio da ocupação, para evitar retaliações dos bandidos aos militares e às famílias dos homens que participaram das ações.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, via NOTIMP