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AeroDilma e os caixeiros-viajantes







Astor Wartchow.

Notícias e declarações oficiais recentes informam acerca da intenção governamental de adquirir um novo avião presidencial, com maior autonomia de voo, aliás, desde já nominado de “AeroDilma”.

De modo que está instalada uma nova discussão pública. Não custa recordar que nos debates eleitorais presidenciais de 2006 já surgira o assunto do superavião, o ironicamente denominado “AeroLula”, então adquirido à custa de muitos milhões.

É claro que o presidente Lula poderia ter encomendado um avião menor e mais barato à Embraer, a exemplo do conhecido e elogiado modelo Legacy. Mas, enfim, são tantos “amigos” na fila de passageiros, e a generosidade estatal deveras sensível, que umas poltronas a mais vêm bem!

Anteriormente, acerca de Fernando Henrique Cardoso também já se fizeram muitas piadas (e intrigas político-partidárias), haja vista que – afirmavam em tom de acusação – permanecia mais tempo em território estrangeiro que nacional. O que Lula também fez. E ampliou a milhagem. Nada como o tempo, dizem meteorologistas e relojoeiros!

Não faz muito tempo, aqui mesmo no torrão gaúcho, face ao “compra não compra” avião, o “Yeda-air”, o neurótico Rio Grande também mergulhara em duelos medievais, em meio aos quais esvanecem as razões e a memória coerente.

De modo que só a política menor e a reles disputa partidária explicam por que as razões de um governante (presidente) não valem para o outro (governador)!

Afinal, serão as razões federais maiores que as razões estaduais? Guardadas as proporções, a natureza e os graus de ação ou omissão governamental não são os mesmos do ponto de vista das tarefas públicas e das expectativas populares?

Ironias e piadas à parte, a verdade é que desde o fim do comunismo, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, e a definitiva mundialização da economia e pulverização dos capitais financeiros, os presidentes dos ditos países em desenvolvimento, agora nominados emergentes, entre os quais o brasileiro, viraram caixeiros-viajantes.

Explicando: a internacionalização da economia, a necessidade de “fazer caixa”, ampliar as exportações, vender estatais, privatizar serviços públicos, estabelecer parcerias, são razões suficientes para justificar a necessidade e agilidade nos deslocamentos governamentais.

Ademais, ainda há a necessidade de enfrentar o desemprego, pauta primeira para que a agenda presidencial (e do governador) seja, essencialmente, comercial e internacional. Esta é a realidade mundial desde 1989.

Outro aspecto, não necessariamente secundário, é que esta agenda comercial e internacional, dentro da aparente inevitabilidade histórica que vivenciamos, tem um papel fundamental no processo político e eleitoral interno.

Afinal, ninguém perdoaria o governante nas omissões em torno dos esforços de captação de novos negócios e geração de empregos. É o ônus da ideologia dominante. Fazer o quê? Ou outro mundo será possível?

Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP

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Humilhação é outra coisa

Rosane de Oliveira

É estranho o silêncio dos petistas gaúchos em relação à defesa que o presidente Lula fez da compra de um novo avião presidencial, que já está sendo chamado de AeroDilma. Quem não lembra do estardalhaço que o PT fez quando a governadora Yeda Crusius tentou comprar um jato para o governo do Estado? Os dois casos se enquadram na categoria de compras inoportunas, mas, em nome da coerência, os líderes do PT gaúcho deveriam ter contestado o discurso de Lula de que é humilhante para o Brasil não ter um avião com maior autonomia de voo.

Humilhante, com o perdão da obviedade, é o alto índice de analfabetismo, a miséria, a carência de serviços de saúde e a falta de moradia. Um Airbus com menos de cinco anos de uso é um avião em plenas condições de atender às necessidades de qualquer presidente latino-americano. Se tiver de fazer uma ou duas escalas para reabastecimento numa viagem à Ásia, qual é o problema?

Provocado, o deputado Elvino Bohn Gass, um dos mais aguerridos críticos de Yeda, é sucinto:

– O Brasil está tão bem no cenário internacional que não vai passar constrangimento por causa de um avião. Dilma não precisa de um novo avião.

Quando Lula encomendou o Airbus apelidado de AeroLula, tinha um bom motivo: o Sucatão não oferecia segurança e estava proibido de pousar em vários aeroportos pelo mundo afora. Agora, não há motivo para a compra defendida por Lula. Aliás, Dilma Rousseff deveria ter sido a primeira a vir a público dizer que o país deve ter outras prioridades.

O modelo pretendido vai custar algo como R$ 500 milhões – cinco vezes o valor pago pelo AeroLula. É evidente que esse dinheiro não resolve, por exemplo, os problemas do SUS, mas não se pode ignorar a simbologia. Comprar um avião novo quando se discute a recriação da CPMF para financiar a saúde é deboche. Ou humilhação – para usar a palavra do presidente.

Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP




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