RS: Fronteira Sul terá base contra o narcotráfico
Plano do governo federal para tentar estancar entrada de drogas e armas no país inclui monitoramento da região com veículos aéreos não tripulados israelenses.
Sul receberá base contra o narcotráfico na fronteira.
Projeto Vant pretende criar cinco bases federais avançadas para vigiar regiões limítrofes com 10 países.
Diante da guerra instalada nos morros cariocas e convencido de que a cabeça do crime organizado no Brasil se apoia em braços a partir das fronteiras, o governo federal anuncia uma outra ofensiva contra o narcotráfico a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro. O plano é colocar em prática um conjunto de medidas para tentar estancar a entrada no país de armas e drogas, a principal matéria-prima dos traficantes.
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse ontem que os países da América do Sul vão desenvolver um plano de segurança de fronteiras para combater o crime organizado.
– Chegou a hora da América do Sul ter um plano integrado, que permita a região combater um problema que vitimiza todos os países e encontrar uma solução conjunta. Todos os técnicos apontam que é impossível o patrulhamento físico dessa fronteira. A melhor maneira de combater isso é com integração e um sistema lógico de cooperação – disse.
A mais dispendiosa e ousada iniciativa no Brasil é o Projeto Vant, que consiste na criação de cinco bases avançadas da Polícia Federal (PF) para vigiar as regiões limítrofes com 10 países em 16,7 mil quilômetros de fronteiras.
O principal mecanismo de monitoramento da região será por intermédio de Veículo Aéreo Não tripulado (Vant). Está prevista a compra de 14 aeronaves israelenses até 2014, projeto orçado em cerca de R$ 600 milhões.
– O nosso maior desafio é a fronteira – afirma o delegado paulista Roberto Troncon Filho, diretor de combate ao crime organizado da PF, terceiro homem na hierarquia da corporação e cotado para ser o diretor-geral.
A localização das cinco bases ainda não foi definida, mas uma delas será montada entre o Rio Grande do Sul e o Paraná, rotas tradicionais de ingresso de contrabando, armas e drogas por estradas e rios nas fronteiras com Uruguai, Argentina e Paraguai.
– Uma aeronave vai cobrir a região Sul. Estamos em negociações com a Aeronáutica para aproveitar estruturas e pistas já existentes – afirma Troncon.
As informações coletadas pelas aeronaves serão processadas pelas bases da PF, que articularão medidas de repressão com as Forças Armadas. O mapeamento de dados também fornecerá subsídios para a Operação Sentinela, que reúne policiais federais, estaduais, rodoviários e a Força Nacional de Segurança Pública.
Em julho do ano passado, a PF iniciou testes com dois Vant no Paraná. Conforme Tronco, os Vant serão utilizados para dar apoio em bases móveis na fiscalização do plantio de maconha no Nordeste e também contra crimes como desmatamento e queimadas.
Especialista no assunto, Nelson Düring, editor do portal DefesaNet, lembra que a PF será a única polícia no mundo que usará Vant para essa finalidade, mas faz um alerta:
– É uma arma poderosa. Hoje, a PF inexiste no Centro-Oeste (principal corredor de drogas e armas). Mas é preciso estar conectada com outros esforços. Uma grande parte do armamento chega por navios na Baía da Guanabara, no Rio – observa Düring.
O governo prepara a instalação de uma central de inteligência contra o narcotráfico e se mobiliza para fazer funcionar acordos de cooperação com os países produtores de drogas e assinar termos de parceria com Argentina e Uruguai para operações conjuntas, troca de informações e tecnologia.
José Luis Costa
Respostas ao narcotráfico
Medidas prometidas pelo governo federal
- Criação de cinco bases de operações com agentes da Polícia Federal (PF) para fiscalizar as fronteiras. A primeira deve ser inaugurada em 2011
- O instrumento principal será o Veículo Aéreo Não tripulado (Vant). Serão compradas 14 aeronaves
- Fabricado em Israel, o Vant é um espião aéreo com envergadura de 16 metros de uma asa a outra, autonomia de voo de até 37 horas com combustível de avião. Decola e aterrissa por meio de controle remoto. Silencioso, atinge 10 mil metros de altitude e é dotado de computadores, radares, sensores infravermelho com visão noturna e de calor para localizar alvos por meio da temperatura, filmadora e câmera fotográfica capaz de identificar placas de veículos
- Criação de um centro integrado contra o crime organizado com ênfase ao narcotráfico, possivelmente em Brasília, no qual agentes da PF e integrantes das Forças Armadas planejarão ações conjuntas para as regiões de fronteira
- Intensificação da Operação Sentinela, ofensiva que reúne agentes das polícias federal, rodoviária, e estaduais e da Força Nacional de Segurança Pública na fiscalização de áreas fronteiriças. As ofensivas começaram em março no Amazonas, depois Rondônia, Acre, Mato Grosso e Paraná. Ainda não atingiu o Rio Grande do Sul por recusa do governo estadual
- Acordos de cooperação com Colômbia, Bolívia, Peru, já assinados, permitem troca de informações sobre criminosos, treinamento compartilhado e operações conjuntas nas fronteiras. Acordos com Argentina e Uruguai devem ser assinados até março.
Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP