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Jobim condena plano de aliança militar para o Atlântico Sul






Em conferência no Rio, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, atacou as estratégias militares dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental).

Jobim disse que o Brasil não pode aceitar que "se arvorem" o direito de intervir e criticou a proposta, ventilada nos EUA, de "cortar a linha" que separa o Atlântico Sul do Norte

Claudia Antunes

Jobim ataca estratégia militar de EUA e Otan

Ministro critica plano para o Atlântico Sul

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez um forte ataque às estratégias militares globais dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental), afirmando que nem o Brasil nem a América do Sul podem aceitar que "se arvorem" o direito de intervir em "qualquer teatro de operação" sob "os mais variados pretextos".

Ele criticou em especial a proposta ventilada nos EUA de "cortar a linha" que separa o Atlântico Sul do Norte para criar o conceito de "bacia do Atlântico".

Lembrou que os EUA não firmaram a Convenção sobre o Direito do Mar da ONU e portanto "não reconhecem o status jurídico de países como o Brasil, que tem 350 milhas de sua plataforma continental sob sua soberania".

"Como poderemos conversar sobre o Atlântico Sul com um país que não reconhece os títulos referidos pela ONU? O Atlântico que se fala lá é o que vai à costa brasileira ou é o que vai até 350 milhas da costa brasileira?"

Também referiu-se a uma "alta autoridade" americana que defendeu "soberanias compartilhadas" no Atlântico. "Ao que nós perguntamos: qual é a soberania que os EUA querem compartilhar, a deles ou a nossa?"

Jobim falou na abertura da 10ª Conferência do Forte de Copacabana, promovida pela Fundação Konrad Adenauer, ligada à Democracia Cristã alemã, para criar um "diálogo" entre América do Sul e Europa em segurança.

Em resposta ao alemão Klaus Naumann, ex-diretor do Comitê Militar da Otan, que disse que a Europa é o "parceiro preferencial" de que os EUA necessitam para manter seu papel dominante no mundo, o ministro disse: "Não seremos parceiros dos EUA para que eles mantenham seu papel no mundo".

Também criticou o embargo a Cuba e defendeu o direito da Venezuela de desenvolver energia nuclear para fins pacíficos. "A política internacional não pode ser definida a partir da perspectiva do que convém aos EUA."

Ele afirmou que a Europa "não se libertará" de sua dependência dos EUA e por isso tende a sofrer baixa em seu perfil geopolítico. O da América do Sul tenderia a crescer, pelo crescimento econômico e os recursos naturais, água inclusive, de que dispõe em abundância, enquanto escasseiam no mundo.

O Brasil e o subcontinente devem "construir um aparato dissuasório voltado para ameaças extrarregionais" que lhes permitam "dizer não quando tiverem que dizer não", completou.

O ministro lembrou que alguns países europeus são "parceiros" do reaparelhamento militar brasileiro, caso da França. Mas advertiu: "As chances de cooperação nesse campo serão tanto maiores quanto menor for o apoio da Europa a esquemas diplomático-militares que venham a entender como tentativa de reduzir a margem de autonomia do Brasil".

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP

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Jobim sobe tom de críticas aos Estados Unidos

Juliana Ennes

O Brasil não conversará com os Estados Unidos sobre a possibilidade de criar uma "Bacia do Atlântico", ligando o oceano sul ao norte, até que a potência passe a referendar a Convenção do Mar, da Organização das Nações Unidas (ONU), disse ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Em tom bastante crítico em relação aos EUA, Jobim afirmou que os direitos brasileiros sobre os fundos marinhos que garantem a exploração do pré-sal, dentro da margem de 350 milhas a partir do litoral, decorrem da Convenção do Mar. E, por isso, "só é possível conversar com um país que respeite essa regra". Acadêmicos americanos sugeriram ao Brasil que se criasse uma soberania compartilhada sobre o Atlântico, "apagando" a linha entre o Atlântico Sul e o Atlântico Norte. No entanto, Jobim questionou sobre quais seriam os termos desse acordo.

"Me pergunto: qual é a soberania que os Estados Unidos querem compartilhar? Querem compartilhar também a deles, ou só querem compartilhar a nossa?", indagou Jobim, diante de uma plateia de militares na VII Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.

A dois meses do fim de seu mandato, Jobim subiu bastante o tom das críticas aos Estados Unidos e disse que, apesar de o Brasil amar a paz, isso não significa "incapacidade de defender os seus interesses".

O ministro foi ponderado ao dizer que o Brasil pode ter relações com os Estados Unidos, mas frisou que a "defesa sul-americana quem faz são os sul-americanos". Em tom bastante crítico à postura da potência do Atlântico Norte em relação ao resto do mundo, ele disse ser evidente que os "sul-americanos não serão parceiros dos Estados Unidos para que eles mantenham seu papel no mundo".

Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP


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