De leviandades
Eliane Cantanhêde.
BRASÍLIA - ""O dia em que sofri mais foi no acidente de avião da TAM em Congonhas. Nunca vi tanta leviandade."
A frase de Lula, para blogueiros no Planalto, seria muitíssimo mais apropriada aos pais, mães, filhos, filhas, maridos, mulheres, amores, amigos e colegas dos 199 mortos da explosão do TAM 3054.
O caos aéreo comia solto havia dez meses, desde a queda do Boeing da Gol que matou 154 pessoas e abriu inédito caos aéreo: controladores em pé de guerra, Infraero, Anac e Decea se engalfinhando, companhias cancelando e atrasando voos, pilotos e tripulações em níveis de estresse nunca vistos e passageiros jogados no chão dos aeroportos.
O acidente do Gol 1907 foi em 29/9/2006, e o do TAM 3054, em 17/7/2007. É justamente o período de pico do caos aéreo, e Lula não mexeu uma palha para resolver a crise. Achava que as coisas se resolveriam por gravidade. Mas a gravidade foi contra e veio a tragédia de Congonhas. Só aí ele agiu.
O Airbus explodiu no dia 17 e Lula trocou o ministro da Defesa no dia 25, num reconhecimento inequívoco de que os erros começavam no próprio governo. De Waldir Pires para Nelson Jobim, a cadeia de comando foi se restabelecendo aos poucos e o caos foi simultaneamente recuando. Coincidência?
Se Lula não lê a imprensa independente e tem dúvida sobre a responsabilidade do seu governo no acidente da TAM, deve ler o relatório do Cenipa (órgão da FAB que investiga acidentes). A culpa é da posição errada dos manetes, ok. Mas havia "o momento particular" da aviação, "o clima tenso" a bordo, os passageiros "estressados".
Logo, "é possível supor que o cenário no qual ocorreu o acidente (...) tenha contribuído para sua consumação, notadamente, sob a forma de uma permanente pressão psicológica sobre seus tripulantes".
Leviandade por leviandade, a pior é a de quem permitiu que a coisa chegasse a esse ponto.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP