Congonhas poderá abrir 1h mais tarde
Após meses de discussões, grupo criado pela Justiça para definir futuro do aeroporto deve sugerir hoje que ele passe a abrir às 7h.
Bruno Tavares.
Após quatro meses de discussões, o grupo de trabalho criado pela Justiça Federal para buscar um acordo para o funcionamento do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, chega dividido hoje à última reunião. O ponto central da discórdia é o horário de funcionamento. Embora as associações de moradores já admitam abrir mão de reivindicações em troca de uma hora a mais de sossego, companhias aéreas e autoridades do setor relutam em perder espaço.
A proposta que desponta como mais "factível" na avaliação de integrantes do grupo ouvidos pelo Estado seria retardar em uma hora a abertura do terminal. Hoje, Congonhas opera das 6 horas às 23 horas. A ideia é que passe a funcionar das 7 horas às 23 horas, o que garantiria 8 horas de descanso aos vizinhos.
Se houver consenso, as partes - associações de moradores, ANAC, Infraero, Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) - devem sair da reunião de hoje com um minuta do acordo, para que seja homologado pelo juiz em audiência marcada para terça-feira. Caso contrário, haveria duas opções: estabelecer novo prazo para os debates ou levar adiante as ações judiciais sobre o assunto.
Na última reunião do grupo, realizada no dia 8, representantes das associações de moradores reclamaram que a passagem dos aviões logo cedo interfere no sono. Na ocasião, o engenheiro Jules Slama, professor de engenharia mecânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que assessora na medição do ruído de Congonhas, afirmou que a queixa era pertinente. Segundo ele, o horário entre 6 horas e 7 horas ainda é considerado noturno e, portanto, ruídos altos podem interferir no sono.
Seria simples resolver o problema se o horário não fosse um dos mais concorridos entre passageiros que chegam a São Paulo ou partem da cidade, a maioria para compromissos profissionais. É por isso que as empresas resistem a mudanças. Abrir mão de uma hora de operação representaria para elas perda de até 34 movimentos (pousos ou decolagens) no aeroporto comercialmente mais cobiçado do País.
A criação do grupo de trabalho foi uma iniciativa do juiz federal Paulo Cezar Neves Júnior, da 2.ª Vara Federal Cível. O objetivo era reunir as partes para que chegassem a um consenso sobre como o aeroporto poderia operar sem provocar tantos desconfortos para seus vizinhos.
Três pontos deveriam ser debatidos, todos objetos de ações civis movidas por associações de moradores: o barulho causado por testes de motores dos aviões, mudança de normas de voo e medição do ruído nas cercanias do aeroporto e o horário de funcionamento do terminal.
O único consenso, por enquanto, é em relação ao horário das checagens de motores. Desde janeiro, a Infraero restringe o teste das 9 horas às 17 horas.
A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente defende os cem pontos aprovados pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente no licenciamento ambiental de Congonhas - entre eles, a mudança do horário para o período das 7 horas às 22 horas. Mas diz estar "aberta a buscar solução intermediária" desde que os moradores concordem.
Cronologia
O "aeródromo" chega ao limite
1936
Inauguração
A Companhia Paulista de Santo Amaro inaugura o Aeródromo de Congonhas. A Vila de Congonhas só era acessível por meio de uma via particular pedagiada.
1976
Horário
Na década de 1970, bairros populosos surgem na região. Em 1976, o aeroporto passa a operar das 6h às 23h, para não incomodar os vizinhos.
1986
Guarulhos
É inaugurado o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Em Congonhas, movimento de passageiros e de aviões cai 50% e 30%.
1996
Acidente
Fokker 100 da TAM cai 65 segundos após decolar de Congonhas rumo ao Rio.
2002 A 2007
Operações
São feitas, em média, 48 operações por hora em Congonhas, que recebe quase 16 milhões de passageiros por ano. O limite é de 12 milhões.
2007
Airbus
Um Airbus da TAM sai da pista e se choca contra um prédio, matando 199 pessoas. São Paulo passa por uma reorganização do sistema aéreo. O número de pousos e decolagens em Congonhas, que antes da tragédia chegava a 44 por hora, passa para 30.
2010
Barulho
A Justiça determina a criação de um grupo de trabalho que busque um acordo sobre o horário de funcionamento. Deputados estaduais também pedem uma definição.
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP
Foto: Mario Ortiz