Rússia e Venezuela selam acordo nuclear
Medvedev ajudará Chávez a construir reatores No Brasil, especialistas não veem problemas
Evelyn Soares
Foi em Moscou a primeira parada da viagem que Hugo Chávez, presidente da Venezuela, faz por países do Oriente Médio e do Leste Europeu para estabelecer bases de cooperação.
Em reunião, em clima amigável, com Dmitri Medvedev, presidente da Rússia, acordos bilaterais foram ampliados no setor petrolífero e na área nuclear.
Um plano de construção de dois reatores nucleares de 1.200 megawatts foi selado.
A Rússia deseja que a Venezuela disponha de toda sorte de possibilidades energéticas declarou Medvedev. Chávez me assegurou que isto provocará reações diferentes em alguns Estados, mas quero dizer que nossas intenções são absolutamente claras e transparentes.
E Chávez reforçou: A Venezuela caminha para a energia nuclear. É desnecessário dizer, mas prefiro falar: com fins pacíficos, é claro.
O venezuelano informou ainda que não pretende fabricar uma bomba atômica com a transferência de tecnologia nuclear da Rússia.
A primeira desconfiança já veio dos Estados Unidos. P.J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, disse que a situação será vigiada muito, muito de perto: Esperamos da Venezuela, Rússia ou qualquer outro país que busque este tipo de tecnologia, mas que assuma suas obrigações internacionais.
O alarde feito pelos Estados Unidos é apenas marketing político, critica Manuel Sanches, professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Isso tudo é propaganda política, tanto dos americanos como de Hugo Chávez. Hoje, ele não precisa da energia nuclear e não tem competitividade para enfrentar a Argentina e o Brasil, que têm mais conhecimento desta área na América Latina.
Amado Cervo, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), enxerga o acordo como uma possibilidade de suprir, futuramente, o uso do petróleo, fonte esgotável de energia, que é base da economia venezuelana.
O modelo bolivarista-socialista de Chávez faz com que, aos poucos, a economia vá à falência.
Este é o único país da América Latina com declínio no crescimento econômico. Então, a produção de energia nuclear é alentadora também para o futuro da economia de lá.
Tanto Cervo como Sanches acreditam que não há razão para imaginar que Chávez possa se tornar o Ahmadinejad da América Latina. O Tratado de Tlatelolco, firmado em 1967 entre os países latino-americanos e o Caribe, estabelece a desnuclearização militar na região.
Chávez precisaria ter um conjunto de equipamentos para lançar bombas nucleares e, além disso, necessitaria de mais ou menos 20 anos para usar urânio enriquecido para fins militares argumenta Sanches.
O acordo não deve inquietar ninguém acalma Cervo. Será apenas mais um país com energia nuclear que, futuramente, pode criar com Argentina e Brasil uma cooperação para o desenvolvimento nuclear do continente.
Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP