Celular vai decolar em voos para passageiros
Brasil sai na frente dos vizinhos da América Latina com oferta que envolve as grandes operadoras nacionais
Ivone Santana | De São Paulo
Se a bordo de um avião, a 10 mil pés acima do nível do mar, é um dos poucos lugares na América Latina onde os celulares não funcionam, isso vai mudar nos próximos dias. A direção da TAM disse que lançará o serviço para os passageiros em novembro, depois de um longo processo, que durou cerca de dois anos, para certificar o sistema, homologar produtos e adequar o serviço à regulamentação das agências de Telecomunicações (Anatel) e Aviação Civil (ANAC). "Outras empresas [aéreas] estão com projetos de conectividade em voo, mas seremos os primeiros nas Américas", afirma o gerente da unidade de negócios da TAM e gestor do projeto, José Racowski.
Na verdade, será a primeira vez que passageiros da América Latina poderão usar o celular a bordo de um avião, garantiu ao Valor o executivo-chefe da OnAir, Ian Dawkins. Várias empresas integraram o projeto sob o guarda-chuva da Airbus, que detém a tecnologia em parceria com a OnAir, da qual é acionista. A Arycom, provedora brasileira de sistemas de comunicação via satélite e representante da Inmarsat, também se uniu à OnAir, que fornece a conectividade. Com isso, os passageiros terão acesso à internet em banda larga via satélite para uso de celular, transmissão de e-mails e de mensagem de texto e multimídia (SMS/MMS), além de poder navegar na web.
A OnAir também firmou acordos com as quatro grandes operadoras móveis brasileiras: Vivo, Oi, Claro e TIM. Os dispositivos nas aeronaves serão conectados às redes terrestres dessas empresas.
Iniciado em 2008 pela OnAir, todo o processo para implantação e lançamento do serviço deveria durar poucos meses, segundo expectativa de Racowski, da TAM. Mas o trâmite não foi tão simples. Finalmente pronto para decolar, o serviço estará disponível inicialmente em uma aeronave, a A321, que faz voos domésticos (Sul, Guarulhos, em São Paulo, e Nordeste), estendendo-se, em alguns meses, para mais três aeronaves, de rotas e horários diversos. Em um ano, após todos os testes, poderá ser ampliado para a frota de 148 aeronaves.
Os telefones ou outros dispositivos móveis são conectados a uma pequena rede celular instalada dentro do avião. Um modem transmite os dados e liga para o satélite, que distribui a comunicação de voz e dados para uma estação na terra, seguindo daí para os destinatários e vice-versa.
Os serviços se baseiam na quarta geração de satélites da Inmarsat, operadora dos satélites posicionados em órbita geoestacionária ao redor da Terra. [Esse tipo de órbita é circular e se processa sobre o equador da Terra, nos pontos de latitude zero. Sua rotação acompanha exatamente a rotação da Terra.] A solução é acessível às aeronaves registradas no Brasil por conta da licença concedida à Arycom pela Anatel para exploração de satélites estrangeiros Inmarsat-3 e Inmarsat-4, diz o executivo-chefe da Arycom, Svante Hjorth. Ele afirma que o sistema tem 99,98% de estabilidade e nunca falha: "O avião presidencial tem o nosso serviço".
Segundo a Arycom, esse sistema não interfere no funcionamento dos instrumentos de rádio-navegação das aeronaves e pode ser usado somente em altitude de cruzeiro, quando a aeronave se encontra a até 10 mil pés acima do nível do mar.
O serviço é considerado seguro para o voo porque o sistema gera um sinal de celular controlado dentro do avião. Quando os celulares são ligados, passam a operar com capacidade mínima. Um bloqueador impede que sinais externos interfiram dentro da aeronave. O gerente da TAM explica que pelo sistema atual, não controlado, ao ser acionado o celular tentará se comunicar com todas as torres em solo que estiverem ao seu alcance, operando em frequência e potência variáveis. O executivo afirma que até hoje nunca foi provado que o uso do telefone nessas condições seja seguro.
A TAM está treinando seus comissários para que saibam quando ligar ou desligar o sistema, bloquear o serviço de voz à noite e orientar os passageiros.
Os serviços da Arycom para o setor aeronáutico incluem o SwiftBroadband, que permite transmissão de voz e dados banda larga simultaneamente em velocidade de até 432 quilobits por segundo, suportando comunicações baseadas em protocolo internet (IP) e telefonia comutada, ou seja, a da rede pública.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP