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Aviação agrícola cresce 8% em 2010









Alberto Komatsu

A aviação agrícola brasileira passa por um momento peculiar. Com faturamento de R$ 600 milhões em 2009 e crescimento estimado entre 5% e 8% para 2010, as 231 empresas que terceirizam aviões para pulverização de defensivos agrícolas em lavouras como de soja, milho e trigo, buscam ampliar a participação de novas culturas no seu faturamento.

As plantações tradicionais respondem por 80% da receita dessas empresas. Mas elas querem elevar a fatia proveniente da pulverização aérea de plantações de verduras e frutas, por exemplo, que respondem por 20% do movimento financeiro do setor.

O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) informa que, atualmente, 25% do total de terras tratadas no Brasil são pulverizadas por aviões, o maior nível da história desse setor. O restante é feito por máquinas terrestres.

"A aviação agrícola vem aumentando sua participação no mercado. Estamos iniciando nossos serviços em outras culturas como nas áreas de citros, café, reflorestamento, entre outras culturas menores", diz o presidente do Sindag, Julio Kämpf. Ele acrescenta que o uso do avião no combate a incêndios cresce nos últimos anos e que o sindicato trabalha para que a aviação agrícola também seja empregada no combate a vetores de doenças. Ele cita o mosquito da dengue (Aedes aegypti) como exemplo. Mas para isso, é necessário aval do Ministério da Saúde.

A Embraer tem colhido bons resultados com a expansão da aviação agrícola. A empresa, uma das sete fabricantes de aviões agrícolas no mundo, estima vender este ano 40 unidades do Ipanema, avião movido a etanol. Esse resultado representa 15% de crescimento em relação às vendas de 2009.

"Até setembro, 102 aeronaves Ipanema, cem por cento etanol, foram produzidas e comercializadas. Além disso, outras 195 aeronaves originalmente movidas a gasolina de aviação tiveram suas configurações convertidas para o uso de etanol", diz Almir Borges, diretor industrial da Unidade Botucatu da Embraer, interior de São Paulo, onde o Ipanema é produzido.

O Ipanema é fabricado desde 1972, mas as versões movidas a etanol começaram a ser vendidas em 2005. Desde o início dos anos 70, 1.100 unidades já foram comercializadas, estima a Embraer. Uma aeronave nova a etanol custa R$ 654 mil, um pouco acima do avião movido a gasolina de aviação, que custa R$ 644 mil.

O número de pilotos com especialização em pulverização de plantações também teve forte expansão. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que em 1999 foram emitidas 116 licenças. Ano passado, foram 725. Até o início de setembro, a agência informa que já são 753 licenças.

Os pilotos da aviação agrícola voam a altitudes baixas, que podem chegar a 1 metro e meio de distância da plantação, com condições favoráveis de voo. Eles ainda têm de desviar de fios de alta tensão e árvores. Seu salário pode chegar ao teto de 20% do faturamento bruto de uma aeronave.

Segundo o Sindag, uma aeronave agrícola fatura R$ 540 mil por ano, o que dá uma média de salário anual de R$ 90 mil por piloto agrícola, ou R$ 7,5 mil por mês. Kämpf, do sindicato, lembra que é praticamente a metade de um salário de piloto de aviação comercial, que chega a ganhar R$ 15 mil mensais com voos internacionais.

Apesar de a Anac mostrar uma evolução do número de licenças para pilotos agrícolas emitidas, o Aeroclube de Ponta Grossa (Paraná), um dos únicos três com cursos de aviação agrícola ativos no país, viu o número de estudantes diminuir de 2010 para 2009.

O diretor financeiro do Aeroclube de Ponta Grossa, Marcos Aurélio Nunes, afirma que no ano passado foram 30 alunos. Em 2010 são 17, o menor número em cinco anos. "Acredito que essa redução não foi só por causa do preço do curso, mas a aviação agrícola tem perdido pilotos para a aviação comercial", diz ele.

Quarenta e cinco dias de curso, mais 31 horas de voos custam R$ 23 mil. Alojamento, alimentação e até roupa lavada estão incluídos nesse valor. Antes de cursar aviação agrícola, o piloto já tem de ter 400 horas de voo.

O superintendente de segurança operacional da Anac, David da Costa Faria Neto, diz que a agência vai encaminhar para consulta pública uma proposta de alteração na regulamentação da aviação agrícola, conhecida como RBHA 137, de julho de 1999. Segundo ele, o objetivo é modernizá-la.

"A alteração vai propor modalidades de pulverização e exigências de roupas e equipamentos de segurança para o piloto, por exemplo", diz o diretor da Anac. A agência também está fazendo um recadastramento das empresas de aviação agrícola.

O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner, observa que a aviação agrícola tem potencial para crescer pelo menos 30% nos próximos três anos, mas com alguns percalços no caminho.

"O passivo dos produtores rurais gerado pela compra de máquinas agrícolas terrestres é o grande gargalo. Deveria haver uma renegociação desse passivo com o governo, ou a criação de um seguro rural", diz Schreiner, estimando que o passivo dos produtores está em torno de R$ 150 bilhões.

Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP




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