Santander financia aviões para Azul
Virgínia Silveira
O Santander e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam uma operação inédita de financiamento à compra de seis aeronaves Embraer 195, de 118 assentos, para a Azul Linhas Aéreas Brasileiras. Segundo o superintendente executivo do Santander, Maurício Cesar Farias, o banco é o proprietário dos aviões e investiu entre 15% e 20% de capital próprio na aquisição. O restante da dívida foi financiado pelo BNDES com garantias da SBCE (Sociedade Brasileira de Crédito à Exportação). "Além de ser a primeira vez que um banco privado participa do financiamento de uma aeronave brasileira junto com o BNDES, essa operação também é inovadora porque envolve uma estrutura internacional de alavancagem fiscal, apoiada pelo governo espanhol", explica o chefe do departamento de comércio exterior do BNDES, Márcio Migon.
O prazo para amortização da dívida, segundo o executivo do BNDES, é de 12 anos e as taxas de juros estão adequadas aos acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte. O Santander, segundo Farias, compra o avião e faz um leasing operacional para a companhia Aérea por um prazo de 12 anos. Os empréstimos para adiantamento de aeronaves custam à Gol, por exemplo, de 1,99% a 2,68% ao ano, segundo informações do balanço da companhia. Na TAM, giram em torno do pagamento mensal da Libor mais 0,6% ao ano.
Com essa operação, explica o superintendente da área de investimentos do Santander, Luiz Eduardo Rangel de Paula, o governo espanhol cria incentivo para investimento em bens de capital do porte de uma aeronave, concedendo a possibilidade de depreciação acelerada contábil dos ativos. "Nos primeiros cinco anos de utilização da aeronave, o governo espanhol arrecada menos impostos, mas ao mesmo tempo é beneficiado com o diferimento fiscal, durante os 12 anos da operação", explica.
O valor total da operação é estimado em US$ 250 milhões, dos quais US$ 187 milhões foram financiados pelo BNDES. "Nos sistemas de operações de financiamento tradicionais do mercado nós temos que desembolsar entre 15% a 20% do nosso caixa na compra dos aviões, mas por meio dessa operação casada entre o Santander e o BNDES conseguimos financiar 100% do valor do contrato", comenta o vice-presidente financeiro da Azul, John Rodgerson.
O leasing operacional nesse caso, segundo o executivo da Azul, prevê o pagamento de um aluguel semestral e não mensal como geralmente acontece. "O prazo maior dá mais fôlego para a empresa investir no crescimento da sua frota e para estar mais focada no seu "core business"", comenta. A operação de leasing feita com o Santander, segundo Rodgerson, envolveu uma negociação de quase um ano e meio, além de idas e vindas dos executivos entre Brasil e Espanha.
Com mais dinheiro em caixa, a Azul aproveita para investir em setores estratégicos com o de treinamento de pilotos. "Na próxima semana receberemos o segundo simulador dos jatos da família 190/195, um investimento de US$ 13 milhões, que atende às nossas necessidades de crescimento da frota." A Azul, segundo o diretor de negócios e assuntos corporativos, Gerald Lee, é a única companhia brasileira que dispõe de um simulador para os E-Jets da Embraer. "O nosso atual simulador trabalha 20 horas por dia atendendo não só a Azul, mas também os pilotos de Trip, Força Aérea Brasileira (FAB) e Air Mozambique."
Com mais caixa para comprar novas aeronaves, a Azul também vislumbra a aquisição de um total de 100 jatos Embraer nos próximos anos. O contrato original da Azul com a Embraer previa a compra de um total de 76 jatos da família 190/195, com 36 pedidos firmes, 20 opções de compra e 20 direitos de compra. O valor do negócio, pelo preço de tabela, é de US$ 1,4 bilhão, podendo atingir US$ 3 bilhões caso todas as opções e direitos de compra sejam confirmados pela Azul. O preço de tabela do jato 190 é de US$ 40 milhões e do 195, US$ 42,2 milhões. Com o pedido adicional de mais cinco aeronaves feitos à Embraer e outras cinco aeronaves adquiridas de terceiros, a frota de jatos da Azul sobe para 86.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP