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Pane da Gol poupou voos fretados








Em quatro dias, empresa cancelou 10% dos 6.630 voos regulares; no mesmo período, deixou de realizar 4,1% dos 288 fretamentos

Bruno Tavares

Dados do tráfego aéreo nacional revelam que a Gol priorizou o cancelamento de voos regulares, em vez dos fretados, na tentativa de contornar a crise de falta de tripulação desta semana. A escolha favorecia a empresa e uma parcela de passageiros. Mas, para especialistas do setor, isso colaborou para os transtornos registrados nos aeroportos entre 31 de julho e o último dia 3.

A onda de atrasos e cancelamentos de voos da Gol foi iniciada no sábado e só começou a ser revertida na terça-feira. Nesses quatro dias, conforme números obtidos pelo Estado, a companhia tinha programado 6.630 movimentos (pousos ou decolagens) de voos regulares, dos quais 640 (10%) tiveram de ser cancelados. No mesmo período, a Gol previa realizar 288 movimentos de fretados. Deixou de realizar 12, ou seja, 4,1%.

O exemplo mais nítido dessa opção da empresa ocorreu na segunda-feira, no auge da crise. Naquele dia, a previsão era de que os aviões da Gol efetuassem 1.589 movimentos no País. Desses, 155 deixam de ocorrer. A programação de fretados também era elevada: 77 chegadas e 65 partidas, 142 movimentos no total. Registros oficiais mostram que, nessa data, um movimento de fretado da Gol foi cancelado.

Férias. Os voos fretados são frequentes nas férias. Como são "fechados" com antecedência, costumam transportar mais passageiros do que um voo regular e ter elevada taxa de ocupação. Enquanto a lotação de um voo regular no País hoje gira em torno de 65%, entre as grandes companhias, a taxa de ocupação de um voo charter chega a 90%. As configurações dos aviões também são distintas. Os voos regulares da Gol são realizados em jatos com capacidade para até 178 passageiros. Os fretados da empresa transportam 230 pessoas.

"Esses cancelamentos deveriam obedecer limites, que a própria empresa deveria estipular para evitar se queimar no mercado e desagradar seus clientes", avalia Respício do Espírito Santo Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo. Segundo ele, a escolha da empresa está ligada aos contratos já firmados com agências de viagens. "Os voos fretados já estão pagos, enquanto nos regulares a empresa vai captando clientes aos poucos."

O especialista reconhece que, até certo ponto, é mais fácil para a companhia realocar passageiros de voos regulares do que fretados. "Mas isso tem de ser muito bem orquestrado, para que uma parcela dos passageiros não seja prejudicada e para que não acarrete multa", assinala.

Na quarta-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) anunciou que a Gol deve ser multada em cerca de R$ 2 milhões pelos cancelamentos de voos. A empresa foi ainda impedida de realizar fretamentos por tempo indeterminado.

"Está claro que houve uma proteção a um grupo de passageiros", diz o engenheiro aeronáutico Jorge Leal Medeiros, professor da Escola Politécnica da USP. "Os contratos de voos fretados costumam prever multas muito maiores em caso de cancelamento do que para um passageiro comum", avalia.

A Gol diz que, por não serem regulares e estarem em minoria na malha, o cancelamento de fretados causa mais transtorno aos passageiros, uma vez que eles não podem ser acomodados em outros voos. Além disso, argumenta, os fretados costumam ter como destino locais que não têm operações regulares, como Bariloche, na Argentina.

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP




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