Funcionários da Gol falam em sobrecarga
Atrasos e cancelamentos de voos ainda persistem
Claudio Nogueira
Pelo segundo dia consecutivo, problemas com aviões da Gol Linhas Aéreas tumultuaram os aeroportos brasileiros. Até às 21h de ontem, a companhia registava 37,8% de atrasos nos voos. Em nota, a empresa esclareceu que um problema no software que processa as escalas de trabalho dos tripulantes fez com que parte deles atingisse o limite de horas de trabalho estipulada pela legislação. Para amenizar a situação, a empresa vai usar aviões maiores, visando transportar mais passageiros.
Uma funcionária da Gol, que trabalha no Aeroporto Santos Dumont, afirmou que os tripulantes da companhia reclamam da sobrecarga de trabalho, e que uma gerente da empresa teria dito que o problema seria resolvido até amanhã. Ainda segundo a atendente, que pediu anonimato, a situação torna bastante difícil o trabalho no saguão do aeroporto: É uma situação complicada e constrangedora para nós, até porque, não podemos dizer aos passageiros que os atrasos nos voos ocorrem por causa de falta de tripulantes.
Num blog mantido por funcionários da empresa, os tripulantes reivindicam melhores condições de trabalho, plano de previdência privada, escalas funcionais e 25% de aumento nos salários. Existe a possibilidade de uma greve na sexta-feira, dia 13.
Duopólio é criticado: Especialistas criticam a formatação do mercado brasileiro das companhias aéreas, consolidado pelo duopólio formado por Gol e TAM que responde por quase 90% dos voos no país e afirmam que isto pode estar por trás dos efeitos em cascata nos aeroportos. O economista Gustavo Cunha Mello, sócio da Correcta, uma das maiores empresas de seguros aéreos no Brasil, também se preocupa com a pouca opção de trabalho dos pilotos, o que poderia proporcionar a aceitação de condições desfavoráveis, comprometendo a segurança de voo. Ele lembra que cerca de 80% dos acidentes aéreos teriam envolvimento dos pilotos.
Mesmo quem está descontente com a situação de trabalho numa empresa acaba se submetendo às condições apresentadas, explica Mello. Gol e TAM não trabalham com prejuízo, mas reduzem drasticamente seu lucro para impedir a livre competição das pequenas empresas.
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) enviou inspetores para acompanhar o planejamento da escala na empresa, e diz fiscalizar a assistência devida pela companhia a seus passageiros.
Também exigiu um plano de ação para remediar os atrasos e cancelamentos.
A ouvidoria da agência analisa uma reclamação do Sindicato Nacional dos Aeronautas com 520 denúncias trabalhistas.
A Gol se comprometeu a colocar em operação cinco Boeings 767, usados normalmente para fretamento, e a apresentar relatório semanal sobre as quantidades de horas voadas pelos tripulantes.
A administradora de empresas Ana Paula Tozzi, que voou 88 vezes no ano passado, acredita que a população é refém das duas companhias aéreas.
Em outubro de 2009, quando a TAM trocou o sistema, foi a mesma coisa.
Houve atrasos violentos, e até check-in manual teve que ser feito, lembra a passageira.
Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP