Caos aéreo afeta 35 mil
Passageiros fazem fila no check-in da Gol em Cumbica, no dia em que a companhia foi responsável por atrasos que afetaram 35 mil pessoas; a empresa alega pane no sistema de escala de tripulações, mas a ANAC pediu explicações.
Bruno Tavares
O Estado de S.Paulo
Pane atrasa voos pelo País, afeta 40 mil e ainda terá reflexos nos próximos dias
Passageiros da Gol enfrentaram ontem uma onda de atrasos e cancelamentos de voos pelo País. Os problemas, segundo a empresa, foram provocados por uma falha no sistema que define a escala de trabalho das tripulações, além de sobrecarga na malha aérea com a volta das férias. Mas, segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), a decisão de cancelar voos partiu da companhia, para evitar que funcionários voassem mais do que a legislação permite.
Dos 818 voos domésticos programados pela Gol entre 0h e meia-noite de ontem, 430 (52,6%) registravam atrasos iguais ou superiores a 30 minutos e 102 (12,5%) haviam sido cancelados, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). O pico ocorreu às 19h, quando 54% dos voos da empresa estavam fora do horário previsto. O índice médio de atrasos das companhias nacionais neste ano é de 12,38%.
A Gol não informou quantos passageiros foram prejudicados. Mas, num cenário "otimista", que leva em conta a taxa média de ocupação dos aviões da empresa no primeiro semestre - 66,53% - e os menores jatos - Boeings 737-700, para 114 passageiros -, pelo menos 40 mil pessoas haviam sido afetadas pelos atrasos e cancelamentos em todo o País até as 22h. Os problemas devem continuar por alguns dias, até que a empresa consiga regularizar as jornadas de trabalho e reorganizar a malha.
"Faltou tripulação", resumiu Carlos Camacho, diretor de Segurança de Voo do SNA. Segundo ele, entre fevereiro e julho o número de queixas dos tripulantes da Gol quase quintuplicou, saltando de 83 para 345, a maioria delas sobre desrespeito à jornada de trabalho.
A Lei do Aeronauta estabelece que, por segurança, tripulantes de aviões a jato não podem voar mais do que 85 horas por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. "A empresa pede voos e a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) não verifica se ela é capaz de cumprir. Agora estourou", diz Gelson Fochesato, presidente do SNA. A Gol afirma que seu quadro de pessoal "é condizente com as necessidades operacionais e está em linha com os padrões do mercado".
A ANAC diz que solicitou informações da empresa e fiscaliza o cumprimento das regras para tripulantes e passageiros. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) diz que os atrasos registrados ontem nada tiveram a ver com o controle de voo.
Desde o mês passado, circula na internet um e-mail endereçado a Constantino Júnior, dono da empresa, no qual uma suposta funcionária da Gol convoca os colegas a cruzar os braços em 13 de agosto. A empresa e o SNA negam a possibilidade de greve.
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP