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Transporte aéreo lucra com consumo de luxo chinês





Wendy Leung e Chan Ling Sue,
Bloomberg

Xin Jing gasta cerca de 200 yuans (US$ 30) em sashimi japonês a cada vez em que visita o supermercado City super, em Xangai. Seu apetite está ajudando a encher os aviões cargueiros com destino à China, melhorando os lucros da Cathay Pacific Airways.

"Sashimi é o meu prato favorito", disse Xin, de 29 anos, que dirige uma pequena empresa de negócios com commodities. "Eu costumo comprar muitas coisas frescas uma vez por semana."

À medida que consumidores chineses cada vez mais ricos comem mais peixe fresco, lagosta e queijos importados, eles estão ajudando na recuperação das receitas mundiais do transporte aéreo de cargas, que no ano passado registrou o pior declínio em cinco décadas. Alimentada pela crescente demanda por produtos de luxo e alimentos perecíveis estrangeiros, o país liderará uma recuperação de 18,5% nos embarques de cargas aéreas neste ano, segundo estimativa de junho divulgada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata).

"A China tem atraído mais investimentos e marcas de luxo, à medida que o poder de compra vai ficando bem maior", afirmou Kelvin Lau, analista do mercado de ações do Instituto de Pesquisa Daiwa, em Hong Kong. Na Cathay Pacific, o transporte de de cargas, que representa cerca de um terço das receitas da empresa, "proporcionaria um impulso muito bom para uma recuperação dos lucros", disse ele.

O crescente consumo interno fez as importações da China crescerem 53% no primeiro semestre deste ano, reduzindo o desequilíbrio de seu comércio exterior, que fazia as companhias aéreas de carga operar aviões vazios até a China, para lá carregar mercadorias destinadas à exportação.

A classe média chinesa, definida como uma família com renda anual disponível entre US$ 5 mil e US$ 15 mil, poderá crescer para 46% dos domicílios do país em 2020, dos 32% neste ano, disse em março a Euromonitor International, de Londres. A economia que mais cresce no mundo deverá crescer 9,5% neste ano, disse o Citigroup neste mês.

Para atender à crescente demanda chinesa, o City super, em Hong Kong, e a grife italiana Salvatore Ferragamo estão inaugurando mais pontos de venda, ao passo que a Cathay Pacific está recolocando em operação aviões cargueiros que estavam estacionados.

A United Parcel Service (UPS), maior empresa mundial de entrega de encomendas, acrescentou dois aviões de carga em Hong Kong e um em Xangai neste ano. A FedEx, a maior transportadora de cargas aéreas do mundo, está planejando comprar mais cargueiros para suas principais rotas até a Ásia. Ambas as empresas aumentaram neste mês as suas previsões de lucro, citando o crescimento da demanda na Ásia.

Os volumes mundiais de carga aérea caíram 10% no ano passado, quando a pior recessão mundial em seis décadas prejudicou o comércio mundial. Para este ano, a Korean Air Lines, maior transportadora internacional de cargas aéreas no mundo, prevê volumes de carga que ultrapassarão o recorde estabelecido em 2007.

O volume de carga aérea da América do Norte para a China pode aumentar 7,8% anualmente nos próximos dez anos, segundo o site da Air Cargo World. Os embarques de cargas aéreas da Europa Ocidental para a China poderão crescer 8,3% ao ano. As companhias aéreas da região Ásia-Pacífico atendem a 45% da demanda de transporte internacional regular.

A Cathay Pacific, maior companhia de transportes de carga aérea em Hong Kong, começou a obter um equilíbrio melhor entre cargas chegando e partindo da China no quarto trimestre de 2009, disse seu principal executivo operacional, John Slosar.

"Tradicionalmente, os voos de partida estariam absolutamente cheios, devido às exportações da China, mas os voos de retorno não estariam tão cheios", disse.

A companhia está transportando cerca de 100 toneladas de lagostas e 150 toneladas de garoupas para a China e Hong Kong por mês, provenientes da Austrália e da Indonésia. Nos primeiros quatro meses, a companhia aumentou em 60%, para 80 toneladas, o transporte de peixes com qualidade para sashimi provenientes de Tóquio, disse Vivian Lo, gerente de vendas e marketing da transportadora.

"A ascensão da China à condição de maior consumidora do mundo solucionará o problema do desequilíbrio das cargas nos voos de ida e volta das companhias aéreas", disse Chi Chang Hoon, presidente da Korean Air. "A demanda de importação de mercadorias pelos consumidores chineses deverá estimular o transporte de cargas originado na Europa e nos EUA, no longo prazo."

K. Ajith, analista da UOB-Kay Hian Research, de Cingapura, disse que o atual aumento na importação de bens de luxo poderá não perdurar, pois a China está revertendo as medidas de estímulo econômico para evitar o superaquecimento da economia.

"O ritmo será moderado no segundo semestre", afirmou Ajith. "Com a retirada do pacote de estímulo, então veremos se esse crescimento pode ser sustentado."

"Se o yuan continuar a se valorizar frente ao dólar e ao euro, a classe média chinesa terá mais condições de pagar pelas importações vindas do Ocidente", disse Steven Wong, vice-presidente de operações da cadeia de suprimento da unidade UPS na China.

O volume de carga aérea transportado para a China pela empresa, que tem sede em Atlanta, teve um crescimento percentual na "faixa superior dos dois dígitos" no primeiro trimestre, exibindo uma recuperação ao patamar anterior à recessão, afirmou Wong, sem fornecer números detalhados.

A Fabergé, joalheria que fazia os grandes ovos incrustados de joias para os czares russos, pode ganhar clientes na China graças à tendência de valorização do yuan e da queda do euro, além da crescente atração dos chineses por artes e serviços exclusivos, afirmou o executivo-chefe da empresa, Mark Dunhill.

A Salvatore Ferragamo está abrindo lojas na China e despachando mais produtos para o país por meio de transporte aéreo do que por via marítima neste ano, segundo o executivo-chefe da empresa, Michele Norsa. A companhia poderá abrir até oito novos pontos de venda no país no próximo ano. Entre 2008 e o fim deste ano, o total de lojas inauguradas chegará a 35.

A City super abriu sua primeira loja em Xangai em maio.

"Os consumidores em Xangai têm muita curiosidade de experimentar novos alimentos importados", afirmou Thomas Woo, presidente da filial local da rede de supermercados. "Eles estão se acostumando a comprar, frutas, azeites de oliva, vinhos tintos e saquês para dar como presente."

Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP



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