Farnborough: A Embraer ri sem parar
Novas encomendas bilionárias de jatos e aviões militares tiram do ar o fantasma da crise do setor aéreo que pairava sobre a empresa brasileira.
Edson Franco
Espécie de Woodstock da aviação, o Show Aéreo de Farnborough é uma das maiores vitrines e balcões de negócios para a indústria aeronáutica mundial. A 47ª edição do encontro, realizada entre 19 e 25 de julho, parecia fadada a ser uma festa sem samba.
Ao passear pelo gigante espaço de exposições a céu aberto num aeroporto a 50 quilômetros de Londres, o visitante se deparava com aeronaves enormes da Airbus e da Boeing, caças poderosos como o americano F-18 e o sueco Gripen, e shows de esquadrilhas da fumaça.
Foto: Curado e French: encomenda firme de 35 jatos Embraer 175 rende sorrisos e US$ 1,3 bilhão
Nada de avião da Embraer. Para alimentar o desânimo quanto à participação brasileira, a empresa cancelou a primeira entrevista coletiva para a imprensa que daria em solo inglês. Confinada em um chalé distante do burburinho da feira, a Embraer dava a impressão de que passaria uma semana olhando pro alto, assistindo ao show da concorrência. Mas as boas notícias vieram a jato.
Logo que abriram suas maletas na feira, os executivos da empresa revelaram o contrato de venda de duas aeronaves para a Trip Linhas Aéreas por cerca de US$ 80 milhões. Nas mesmas malas estavam os papéis que anunciavam a venda de cinco jatos 195 para a empresa Azul.
Mais US$ 211 milhões em caixa. No segundo dia de Farnborough, um sorridente Jim French, executivo-chefe da companhia britânica de aviação regional Flybe, anunciou a compra de 35 jatos Embraer 175, numa transação estimada em US$ 1,3 bilhão. E disse que quer mais.
O negócio inclui 65 opções de compra e mais 40 direitos de compra. A fatura pode chegar a US$ 4,6 bilhões. Na quarta-feira 21, foram divulgadas mais duas reservas importantes, que só irão engrossar a linha de montagem se a crise do setor aéreo sair mesmo do radar após dois anos de turbulências – nesse mercado, basta a economia esfriar para as encomendas serem suspensas.
Foto: Saito e Curado: Força Aérea Brasileira vai comprar 28 unidades do novo cargueiro militar KC-390.
O pedido vai abrir caminho para as exportações de novas aeronaves para uso militar.
A maior operadora dos jatos da Embraer, a americana Republic Airlines, prometeu levar mais 24 aeronaves Embraer 190 para o Hemisfério Norte. Se a carta de intenções virar contrato, renderá US$ 960 milhões.
A recém-nascida Air Lease, também dos Estados Unidos, reservou 15 aviões para um futuro não muito distante e mais cinco para “quem sabe um dia”. Seriam mais US$ 800 milhões. A canadense Bombardier, arquirrival da Embraer, vendeu menos na feira e deve ter ficado com inveja (veja quadro).
Entre cheques e cartas de intenção de quase US$ 7 bilhões, Frederico Curado, CEO da Embraer, achou um tempo para falar com exclusividade à DINHEIRO. Animado, ele afirma que os negócios exibidos em Farnborough indicam que o pior da crise já passou e já é possível ser otimista quanto ao futuro da empresa, que demitiu quatro mil pessoas em fevereiro de 2009 por conta da crise global.
Receio? Um só: a concorrência do país que mais cresce no mundo. “O que mais me assusta é a China. Como lá é tudo estatal, a coisa não tem a transparência de quem presta contas em bolsa, como nós e as concorrentes ocidentais”, diz Curado.
“É legítimo que o Estado invista em tecnologia e desenvolvimento, mas não que faça sabe-se lá o quê para privilegiar seus produtos”, alerta, num sinal de que as perspectivas da joint venture da Embraer com a Aviation Industry Corporation of China, em Harbin, não são boas.
Para se proteger dessa e de outras ameaças, a Embraer vem redistribuindo o percentual de vendas nas três categorias em que atua: aviação comercial, executiva e militar. Esta última, que no início da década não chegava ao segundo dígito e que no trimestre passado bateu nos 18% do faturamento, ganhou um reforço considerável em Farnborough.
Com a presença do comandante da Aeronáutica brasileira, Juniti Saito, a empresa apresentou o projeto do KC-390, avião de transporte capaz de carregar até tanques de guerra. “Quando ele entrar em operação, vai ser o grande veículo do crescimento da nossa área militar”, diz Curado.
O preço ainda não está definido, mas os similares custam cerca de US$ 90 milhões.“A Aeronáutica planeja comprar 28 unidades, o que abre o caminho para a exportação”, diz Curado. Antes de fazer as malas e voltar ao Brasil, o CEO comemorou o prêmio Inovadores do Ano, concedido pelos usuários do site Flightglobal.com à Embraer devido ao sistema fly-by-wire (manejo eletrônico) dos jatos executivos Legacy 450 e 500.
Apesar do reconhecimento tecnológico e da retomada no crescimento das vendas, Curado sabe que nunca vai ser possível ligar o piloto automático no controle da empresa. “Não tem jogo fácil. É barra pesada”, conclui.
Fonte: REVISTA ISTO É DINHEIRO, via NOTIMP
---
Airbus fecha 130 contratos
Andrea Rothman, Susanna Ray
Rachel Layne, da Bloomberg
As fabricantes Airbus SAS e a Boeing receberam pedidos de 237 aviões de passageiros superando US$ 28 bilhões durante a Feira Aérea de Farnborough, que terminou ontem, na Inglaterra. A quantidade é mais de três vezes o volume anunciado em Paris há uma ano, fazendo com que alguns executivos declarem que a crise econômica global está no fim.
A Airbus conquistou 130 contratos, totalizando US$ 13 bilhões, ultrapassando os 103 alcançados pela Boeing, no valor de US$ 10 bilhões. A companhia europeia também anunciou que poderá fechar ainda mais US$ 15 bilhões em negócios futuros, frente a US$ 4 bilhões da americana Boeing. No mercado regional, a brasileira EMBRAER ultrapassou a canadense Bombardier, que não conseguiu novos compradores para seu CSeries.
A maioria dos negócios foi resultado do ressurgente setor de fretes aéreos, com a compra por parte da Air Lease, da Steven Udvar-Hazy, de 105 aviões de passeio e de 100 comprados pela GECAS, da General Electric.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP