Companhias emergentes decolam.
Empresas como Trip e Passaredo, nascidas no interior de São Paulo, crescem no vácuo deixado pelas grandes e profissionalizam gestão.
Paula Pacheco, Patrícia Cançado
A década de 70 marcou o nascimento da aviação regional no País. Naquele momento, o Brasil foi dividido em cinco regiões e, graças a subsídios, empresas como TAM, Rio Sul e Nordeste surgiram e ganharam força. Nos anos 90, com o fim das áreas de concessão, esse modelo ruiu. As empresas mais competentes tornaram-se nacionais e a aviação regional ficou em baixa com várias cidades deixando de ser atendidas. Mais recentemente, porém, empresas como Trip e Passaredo se tornaram representantes de uma nova onda de expansão no setor.
Fundada em 1998 pela família Caprioli, do interior de São Paulo, a Trip é o melhor exemplo da fase atual do setor. Há quatro anos, atraiu o investimento do grupo capixaba Águia Branca, de transporte rodoviário. Mas foi em 2008 que ganhou outro status, com a entrada da Sky West, a maior empresa de aviação regional dos Estados Unidos, como sócia.
Agora, o caminho é profissionalizar a Trip e prepará-la para uma eventual abertura de capital. Maior empresa de aviação regional no País, a Trip contratou a Fundação Dom Cabral para estruturar esse processo. Também chamou dois nomes de peso para seu conselho de administração: Wilson Ramos, que foi vice-presidente de Planejamento da Gol, e Eduardo Gentil, ex-Goldman Sachs e ex-Visa.
Segundo Renan Chieppe, presidente do conselho e representante do Grupo Águia Branca, e José Mário Caprioli, presidente da empresa indicado pelo Grupo Caprioli, a Trip planeja pedir o registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) até o fim do ano, porém sem o compromisso imediato de IPO, o lançamento inicial de ações na Bolsa.
Com 35 aviões (seis Embraer e 29 da franco-italiana ATR) e operação em 90 cidades, a companhia espera crescer 70% este ano e atingir um faturamento de R$ 760 milhões. "Apostamos no modelo de negócio regional. O mercado de pequena e média densidade traz uma taxa de crescimento mais elevada do que a indústria como um todo. Isso demonstra que o Brasil está crescendo para o interior, fora do eixo das grandes cidades", diz Chieppe.
Menor, mas não menos otimista que a Trip, a paulista Passaredo inaugurou quatro voos nos últimos 30 dias. De maio para cá, incorporou mais três jatos Embraer à sua frota de 13. Até o fim do ano, outros dois podem chegar. Há cerca de três meses, uma equipe de cinco executivos saídos da Webjet (a maioria também com experiência na TAM) foi chamada para ajudar a executar o plano de crescimento. A empresa está aberta à possibilidade de ter um sócio, embora diga que o assunto não é prioridade agora.
Fundada em Ribeirão Preto (SP) por José Luiz Felício há 15 anos, a Passaredo parou de operar entre 2002 e 2004. Na sua volta, desistiu dos voos charter para focar apenas na aviação regional. "A gente acredita muito no interior de São Paulo e no Nordeste", diz José Luiz Felício Filho, presidente da Passaredo. Há dois meses, por exemplo, passou a voar de Ribeirão para Recife e inaugurou a rota Vitória da Conquista (BA)-São Paulo, que não era feita por mais ninguém.
Estímulo. Há dois anos, preocupado com o desaparecimento de diversas rotas regionais a partir da década de 90, o Ministério da Defesa começou a desenhar medidas de estímulo ao segmento, como a criação de um fundo garantidor de crédito para a compra de aviões e a flexibilização de normas de segurança em aeroportos menores. Com essa última, a Trip voltou a operar em 20 localidades, diz Carlos Eduardo Duarte, diretor-substituto do Departamento de Política de aviação Civil da Secretaria de aviação Civil.
Mas a mais polêmica das medidas é um projeto de lei que pretende ressuscitar o subsídio das companhias regionais, principalmente nos cantões do Brasil. Ao contrário do modelo da década de 70, a ideia é que a União seja a fonte de recursos. "Essa é uma nova fase para a aviação regional. Se o setor está atraindo investimentos, se empresas como Azul e TAM se interessam, por que algumas empresas pedem subvenção? Só precisam disso as empresas ineficientes e que só representam 2,5% do transporte regional", diz Paulo Sampaio, da consultoria Multiplan.
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP