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Brasil busca paz entre Venezuela e Colômbia






Vizinhos se apressam em apaziguar a crise. Presidente Lula e dirigente da Unasul irão a Caracas e Bogotá na tentativa de remediar ruptura de relações entre Colômbia e Venezuela, que admite presença das Farc no país.

Viviane Vaz

Brasília: O conflito diplomático que irrompeu com a Venezuela já ameaça ofuscar a posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, dentro de exatamente duas semanas. Para mediar o rompimento das relações entre os dois vizinhos, o secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o argentino Néstor Kirchner, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se anteciparão à posse em Bogotá e visitarão Caracas, para reuniões com o presidente Hugo Chávez, nos dias 5 e 6. O mandatário equatoriano, Rafael Correa, presidente temporário da Unasul, avisou que convocará "o mais rápido possível" uma reunião de chefes de Estado da organização. "Nesse intervalo podemos, obviamente, atender à solicitação do presidente Chávez e tentar ver como mediamos e resolvemos esse conflito lamentável", afirmou Correa.

Os três encontros tentarão resolver o conflito precipitado pela denúncia formal do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de que haveria 87 acampamentos de guerrilheiros colombianos na Venezuela, sob proteção de tropas regulares. Imagens que supostamente comprovariam a acusação foram exibidas em reunião extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que levou Chávez a anunciar o "rompimento de todas as relações com o governo colombiano".

Não satisfeito, o presidente venezuelano mandou reforço de tropas para a fronteira. "As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas mantêm sua preparação operacional e estão prontas para obedecer às ordens do comandante-em-chefe e presidente da República", declarou o ministro da Defesa, general Carlos Mata, ao canal de televisão oficial VTV. O ministro ressaltou que "mais de 20 mil homens" estão em "estado de alerta máximo" para responder a uma eventual "agressão".

O embaixador da Venezuela na OEA, Roy Chaderton, reconheceu que há guerrilheiros colombianos no país, mas negou apoio aos rebeldes e afirmou que as Forças Armadas venezuelanas não apenas combatem a guerrilha, como já entregaram membros capturados à Colômbia. "Entregamos guerrilheiros, mas isto não se registra e nem se recorda. Tivemos soldados de nossa guarda caídos em combate (contra os guerrilheiros), afirmou Chaderton à Rádio Caracol.

Chaderton voltou a acusar o governo Uribe de defender um realismo mágico midiático e de apresentar um cenário que não tem relação com a realidade. "Quando as Farc violam a fronteira é porque as Forças de segurança da Colômbia não souberam defender seu Estado. Não devemos pagar por isso em termos de escândalos midiáticos, disse o embaixador, voltando a dizer que as fotos exibidas de guerrilheiros em praias e casas não provam que seja território venezuelano.

A presidente do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, Luisa Estela Morales, também subiu o tom das declarações e disse que o órgão ajudaria a definir a estratégia do país, a partir de leis venezuelanas e do direito internacional. "Foram analisadas as causas e as declarações que constituem no mundo diplomático uma agressão verbal contra o governo da Venezuela", acusou Morales.

Nem Uribe nem Santos quiseram comentar os últimos passos do vizinho e rival. O secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para a América Latina, Arturo Valenzuela, manifestou a preocupação de seu governo e pediu que aos dois países sul-americanos que optem por "um diálogo construtivo" e pelo "respeito mútuo". A posição americana de principal aliado da Colômbia foi reiterada pelo embaixador de Washington no Brasil, Thomas Shannon. Durante uma conferência em Brasília, ele ressaltou que os EUA reconhecem as denúncias feitas pela Colômbia na OEA como "informações que também nos preocupam". Shannon elogiou o papel do Brasil: "Aplaudimos o papel de se comunicar diretamente (com ambos países) para insistir no diálogo e numa maneira de resolver a confrontação pacificamente", disse.

NAS RUAS

Enquanto Chávez desloca tropas para reforçar os 2.219 quilômetros de fronteirIa e Uribe se cala sobre o rompimento das relações diplomáticas, cidadãos comuns sofrem as consequências da crise. "Não sei por que Uribe não pode entregar o governo pacificamente a Santos e deixar essa questão das Farc para depois", reclamou ontem à reportagem a colombiana Mabel García.

A dona de casa vive nas Ilhas Margaritas (Venezuela) há cinco anos e tem dois filhos nascidos no país vizinho. Ela tinha prazo até 31 de julho para renovar sua documentação como residente, mas, com a retirada dos diplomatas colombianos e o fechamento de todas as repartições consulares do país na Venezuela, Mabel corre o risco de ficar em situação irregular. "É um problema gravíssimo. Fico cIom medo de que me peçam os documentos e minha cédula já não sirva para nada. Também tenho medo de viajar à Colômbia e não poder entrar novamente na Venezuela."

Fonte: ESTADO DE MINAS, via NOTIMP

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Mais uma crise

Uribe faz último ataque, e Hugo Chávez, maior fator de instabilidade da região, encena risco de conflito para encobrir problemas internos.

É do interesse do presidente Hugo Chávez -e, em grau menor, de seu colega Álvaro Uribe- o novo capítulo da crise política entre Venezuela e Colômbia.

Anteontem, em Washington, representantes de Bogotá apresentaram à Organização dos Estados Americanos o que alegam ser provas de que Caracas oferece abrigo a 1.500 guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional). Ato contínuo, Chávez anunciou o rompimento de relações diplomáticas com o país vizinho e determinou "alerta máximo" na fronteira.

Às vésperas de um decisivo pleito para renovar a composição da Assembleia Legislativa, a ser realizado em setembro, e distante dos tempos de auge de sua popularidade, o mandatário venezuelano tenta desviar os olhos do país ao encenar, com seu conhecido talento de bufão, a ameaça de um conflito militar com o vizinho.

Enquanto Chávez recusa-se a dar explicações e insiste em táticas diversionistas, a democracia venezuelana vai sendo dizimada e a população enfrenta os efeitos da incompetência do governante em matéria econômica: o PIB do país recuou quase 6% no primeiro trimestre e os preços, até maio, já acumulavam alta de 14%.

Álvaro Uribe fez do episódio o que deve ser seu último gesto público de ataque às Farc e a Chávez. O líder colombiano, após ver rechaçada pela Justiça sua tentativa de concorrer a um terceiro mandato, transferirá o cargo a seu ex-ministro Juan Manuel Santos daqui a duas semanas. Reforça, com as acusações, sua reputação de "linha-dura" com a narcoguerrilha.

Uribe deixará a Presidência com aprovação acima de 70% e resultados incontestáveis. Sua gestão foi um divisor de águas. Sob seu governo, cidadãos colombianos recuperaram direitos elementares, como o de se locomover pelo país, a segurança aumentou, a economia cresceu, o turismo floresceu e amplas parcelas do território foram retomadas das Farc.

O conflito com Hugo Chávez, que mantém relações no mínimo ambíguas com a guerrilha, trouxe um alto custo econômico. A Colômbia, tradicional exportadora de bens manufaturados para os venezuelanos, viu o comércio com aquele país cair pela metade.

Esse é um dos motivos apontados por analistas para que a crise seja solucionada com a posse de Santos. Interessa ao novo presidente reforçar laços diplomáticos e comerciais com os países da região -e ele já deu sinais de que pretende promover alguma distensão com o vizinho bolivariano.

São mais do que razoáveis as preocupações colombianas com a possibilidade de Chávez oferecer cobertura às Farc. A crítica fácil aos laços da Colômbia com os EUA ignora que, por décadas, governos latino-americanos assistiram, indiferentes, alguns até com simpatia, ao avanço da guerrilha. A quem os colombianos deveriam recorrer em busca de apoio?

É inevitável que o Brasil se apresente como candidato a mediar o conflito e contornar a crise. É o que precisa ser feito. Para obter sucesso, no entanto, a diplomacia brasileira precisa conquistar a confiança da Colômbia, abalada por demonstrações de apreço de representantes do governo Lula ao principal fator de instabilidade da região, que é Hugo Chávez.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP

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Brasil é exemplo de como lidar com Farc", diz general colombiano

DA ENVIADA A SANTA MARTA E PALOMINO (COLÔMBIA)

O general do Exército colombiano, Freddy Padilla de León, 61, chefe das Forças Armadas da Colômbia, evitou ontem fazer críticas diretas à vizinha Venezuela, e insistiu em que há cooperação militar mínima na fronteira apesar do rompimento das relações diplomáticas.

O recado à Venezuela veio em forma de elogio ao Brasil. Disse que os militares brasileiros atuam rápido para capturar integrantes das Farc para não deixar a "erva daninha" crescer. "É o que queremos que todos façamos."

Folha - Com o anúncio da Venezuela de que suas Forças Armadas estão em "alerta máximo", o que o sr. disse a seus homens?

Freddy Padilla - O que pedi foi prudência, prudência. Somos países irmãos e não somos ricos a ponto de não dependermos da logística do outro na fronteira. Temos de identificar bem quem é o real inimigo: as Farc.

Em maio foi preso em Manaus um integrante das Farc, e a polícia brasileira fala de uma rota de tráfico passando pela fronteira brasileira. É um problema crescente?

Leu o "Pequeno Príncipe" [de Saint-Exupéry]? Pois o personagem morava sozinho num planeta e seu trabalho diário era detectar ervas daninhas. Era difícil, porque cresciam tão rápido que dominavam o planeta. O Brasil faz isso: encontra um [membro das Farc] e imediatamente o captura, de tal modo que não irá crescer. É o que queremos que todos façamos.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP

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Kirchner vai liderar negociações

Países como Brasil, Paraguai e Equador negociam o impasse entre Venezuela e Colômbia.

O secretário-geral da Unasul (União dos Países da América do Sul), ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, vai mediar a crise diplomática entre Venezuela e Colômbia por causa da suposta existência de guerrilheiros colombianos em território venezuelano.

Kirchner vai reunir-se na Venezuela com o presidente Hugo Chávez e, depois, na Colômbia, com Álvaro Uribe e o presidente eleito, Juan Manuel Santos, segundo um porta-voz do organismo.

Depois dessa decisão, Kirchner conversou com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa, do Equador com quem concordou em fazer todos os esforços possíveis para superara crise.

A estratégia do governo brasileiro tem sido a de atuar nos bastidores, evitando assim qualquer comentário mais contundente sobre a disputa diplomática.

O objetivo é ganhar tempo até que o presidente Lula fale pessoalmente com Chávez e Uribe, em uma viagem que já estava programada para os dias 6 e 7 de agosto.

OEA A entrada da Unasul no conflito diplomático foi uma insistência da Venezuela, com o apoio do Brasil, para que a solução do impasse no âmbito do organismo da América do Sul e não da OEA, Organização dos Estados Americanos, que tem a presença dos Estados Unidos, forte aliado da Colômbia.

O papel da OEA como mediadora de conflitos foi questionado por líderes sul-americanos. Rafael Correa, responsabilizou o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, por não ter evitado a crise entre Caracas e Bogotá.

Desde a semana passada, o governo equatoriano, que presidia o Conselho Permanente da OEA, vinha tentando adiar a convocação da reunião para realizar consultas com os demais países, por considerar as acusações da Colômbia um assunto delicado. Insulza, por sua vez, garante ter acatado o regulamento da OEA, que determinaria a necessidade de responder à solicitação de qualquer país membro.

Tensão O Exército da Venezuela recebeu ordens de marchar até a fronteira com a Colômbia, segundo o ministro da Defesa.

As Forças Armadas nacionais bolivarianas mantêm sua preparação operacional estando prontas para obedecer às ordens do presidente da República declarou o ministro da Defesa, general Carlos Mata, em uma declaração lida no canal de televisão oficial, VTV.

Mata, no entanto, declarou que a situação está normal ao longo da fronteira entre os dois países.

EUA: Em comunicado, o Departamento de Estado americano disse que as denúncias da Colômbia devem ser levadas muito a sério e que a Venezuela tem a obrigação de agir para prevenir a presença de grupos irregulares em seu território. Todos os países do continente esperam que os países da comunidade interamericana cumpram o compromisso de rechaçar a presença de grupos armados ilegais, segundo a diplomacia americana.

Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP

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Venezuela admite guerrilha

Embaixador do país na OEA reconheceu ontem que há sim guerrilheiros em território venezuelano, mas que o governo de Hugo Chávez combate os rebeldes.

CARACAS. O embaixador da Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA), Roy Chaderton, reconheceu ontem que há guerrilheiros colombianos no país, mas negou apoio aos rebeldes e afirmou que as Forças Armadas venezuelanas não apenas combatem a guerrilha, como já entregaram membros capturados à Colômbia. Também ontem, autoridades militares venezuelanas disseram que darão uma resposta contundente se houver uma incursão militar estrangeira contra o território da Venezuela.
Entregamos guerrilheiros, mas isto não se registra e nem se recorda. Tivemos soldados de nossa guarda caídos em combate (contra os guerrilheiros), afirmou Chaderton à Rádio Caracol.

Na quinta-feira o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, depois que essa apresentou provas em reunião da OEA de que há 87 acampamentos das (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano. O governo de Álvaro Uribe acusa Chávez de ser leniente quanto à presença dos guerrilheiros.

Quando as Farc violam a fronteira é porque as Forças de segurança da Colômbia não souberam defender seu Estado. Não devemos pagar por isso em termos de escândalos midiáticos, disse o embaixador, voltando a dizer que as fotos exibidas de guerrilheiros em praias e casas não provam que seja território venezuelano.

O embaixador explicou ainda o motivo de não querer, como pede a Colômbia, que organismos internacionais verifiquem as provas e chequem nos locais apontados se há efetivamente guerrilheiros. Ele afirmou que já houve duas iniciativas semelhantes no passado: em uma não encontraram nada e na outra não completaram a busca porque o acampamento estava em território colombiano.

RESPOSTA

As autoridades militares da Venezuela anunciaram ontem que estarão alertas e ofereceram apoio incondicional a Chávez. O ministro da Defesa, general Carlos Mata Figueroa, acompanhado pelo Comando Militar, anunciou que as Forças Armadas mantêm sua prontidão operacional e estão dispostas a qualquer momento para obedecer as tarefas que forem ordenadas por Chávez.

Responsabilizamos a oligarquia colombiana e seu atual governo, se essas nações irmãs tingirem de sangue sua história, afirmou.

O único comentário feito ontem pelo governo colombiano sobre a crise partiu do porta-voz presidencial, César Mauricio Velásquez. Da parte da Colômbia, jamais haverá um movimento de tropas. Sempre haverá fraternidade com a Venezuela, afirmou.

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO, via NOTIMP

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A nova bravata de Chávez

Diante das evidências contundentes sobre a presença de 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território venezuelano, apresentadas à Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente Hugo Chávez reagiu na sua típica maneira destemperada: invocando a "dignidade" nacional, rompeu relações diplomáticas com o governo de Bogotá e ordenou às Forças Armadas que entrassem em "alerta máximo" na fronteira entre os dois países.

A dignidade da Venezuela estaria mais bem servida se, em primeiro lugar, tivesse um dirigente que não se comportasse como um histrião. Mas Chávez armou o cenário para o anúncio da ruptura com a participação, que acabou sendo ridícula, de seu "correligionário" argentino Diego Maradona, que com ar estuporado ouviu a catadupa de impropérios que dirigiu ao presidente colombiano Álvaro Uribe. Essa foi a resposta às provas exibidas na OEA de que continua dando guarida ao bando de narcotraficantes em que se transformaram as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que desgraçaram a nação vizinha antes de serem acuadas pela tenaz política de segurança adotada por Uribe.

"A Venezuela deveria romper relações com as gangues que sequestram, matam e traficam drogas, e não com um governo legalmente constituído", comentou o embaixador colombiano na OEA, Luis Alfonso Hoyos. Foi na sede da OEA, em Washington, que os representantes colombianos exibiram vídeos, mapas e fotos aéreas indicando a localização dos acampamentos das Farc e do Exército de Libertação Nacional (ELN).

"São ao menos 87 estruturas completamente Armadas em território venezuelano", descreveu Hoyos. Os acampamentos "continuam se consolidando". Nas regiões do país onde se instalaram, geralmente em locais fronteiriços, os farquistas não se conduzem como se estivessem batendo em retirada ou apenas se reagrupando. Controlam com mão de ferro as desafortunadas populações, a ponto de lhes impor o toque de recolher a cada dia.

Foi essa realidade que a Colômbia buscou descortinar na reunião de emergência da OEA, convocada a seu pedido. Além disso, representantes de Bogotá exortaram Chávez a permitir que observadores estrangeiros visitassem as áreas onde se situam os santuários das Farc. Para surpresa de ninguém, a Venezuela se recusou a fazê-lo, o que dá a devida dimensão a suas tentativas de desmentir fatos que constituem uma clara violação das normas da Carta da OEA sobre a convivência pacífica dos países do Hemisfério.

A bravata do rompimento vem sendo, em geral, interpretada como a reencenação do velho truque da transmutação do agressor em vítima. A plateia a que o caudilho se dirige é a população venezuelana. Já se apontou neste espaço a urgência de Chávez em fabricar inimigos internos (a imprensa, a Igreja, o empresariado) e externos (o "Império" e a Colômbia) para mascarar o estado pré-falimentar a que as suas políticas "bolivarianas" reduziram a economia nacional, em recessão pelo segundo ano consecutivo. Ele teme o troco do povo nas eleições legislativas de setembro.

Se os motivos de Chávez são claros, os de Uribe suscitam controvérsias. Segundo uma versão, ele teria resolvido levar o venezuelano ao pelourinho a duas semanas da transmissão do poder ao sucessor Juan Manoel Santos, o ex-ministro a quem apoiou na campanha, para sabotar a sua anunciada política de distensão com a Venezuela. Mais convincente, talvez, parece ser a hipótese de que, tendo só agora reunido as condições para denunciar a proteção chavista às Farc, Uribe quis fechar um ciclo no contencioso bilateral e deixar o campo livre para Santos fazer nova política na matéria.

De seu lado, o governo brasileiro, que até há pouco preferia se envolver nos conflitos do Oriente Médio em vez de se voltar para tensões na vizinhança, mais do que depressa anunciou a intenção de agir como mediador entre Colômbia e Venezuela. Antes tarde do que nunca, seria o caso de dizer, se a oferta já não estivesse contaminada pelas manifestas simpatias do presidente Lula e do seu entorno pelo autocrata venezuelano.

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP

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Força-tarefa para evitar conflito

Países se prontificam a mediar nova crise, enquanto o embaixador venezuelano na OEA reconhece a presença de guerrilheiros.

Um dia depois de a Venezuela romper relações diplomáticas com a Colômbia, uma espécie de força-tarefa internacional surgiu para tentar acalmar os ânimos entre os dois países. Líderes de Brasil, Argentina, Espanha e outros países se ofereceram para mediar as conversações entre venezuelanos e colombianos, a fim de retomar os laços bilaterais.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na quinta-feira o rompimento com Bogotá, depois que o governo de Álvaro Uribe acusou a Venezuela, na Organização dos Estados Americanos (OEA), de abrigar em seu território em torno de 1,5 mil guerrilheiros. Dizendo-se preocupado com a crise, o governo espanhol se colocou à disposição para, juntamente com países latino-americanos e organizações regionais, acabar com essa situação o mais breve possível.

O ex-presidente argentino, Néstor Kirchner, também entrou nos esforços. Como secretário-geral da Unasul, ele viajará à Venezuela e à Colômbia em agosto para se reunir com Chávez e Uribe.

O primeiro a se oferecer para mediar as negociações havia sido o Brasil, ainda na quinta-feira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou para Chávez à noite, a fim de saber mais sobre a nova crise diplomática. Lula não entrou em detalhes sobre o telefonema, mas um assessor informou que o brasileiro pediu para o colega evitar mais crises, porque Uribe entrega o cargo ao sucessor, Juan Manuel Santos, em 7 de agosto.

Ontem, o embaixador da Venezuela na OEA, Roy Chaderton, reconheceu que há guerrilheiros colombianos no país, mas negou apoio aos rebeldes e afirmou que as Forças Armadas venezuelanas não apenas combatem a guerrilha, como já entregaram membros capturados à Colômbia.

O exército da Venezuela recebeu ordens de marchar até a fronteira com a Colômbia. As autoridades militares venezuelanas anunciaram ontem que estarão alertas e ofereceram apoio incondicional a Chávez. O ministro da Defesa do país, general Carlos Mata Figueroa, disse que as Forças Armadas darão uma resposta contundente se houver uma incursão militar estrangeira contra o território venezuelano.

O único comentário feito ontem pelo governo colombiano sobre a crise partiu do porta-voz presidencial, César Mauricio Velásquez. Ele declarou que, da parte da Colômbia, jamais haverá um movimento de tropas, sempre haverá fraternidade. Apesar do rompimento, analistas acreditam que a possibilidades de a tensão diplomática se transformar em confronto bélico é pequena.

Caracas

Saiba mais O QUE DIZ A COLÔMBIA Bogotá quer que a OEA envie, em até um mês, uma missão para comprovar as denúncias abaixo:- Haveria entre 20 e 39 acampamentos de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) na Venezuela- Desses, cinco teriam tido a localização confirmada por guerrilheiros desertores e por GPS- Os acampamentos abrigariam 1,5 mil guerrilheiros, que planejariam ataques contra a ColômbiaFRASES DESENCONTRADASHugo ChávezPresidente da VenezuelaUribe seria até capaz de montar um campo falso na selva do lado venezuelano para atacá-lo, bombardeá-lo e provocar uma guerra entre Colômbia e Venezuela.Roy ChadertonEmbaixador da Venezuela na OEAEntregamos guerrilheiros, mas isto não se registra nem se recorda (...). Tivemos soldados nossos caídos em combate.Luísa OrtegaProcuradora-geral da VenezuelaTrata-se de uma prova fabricada.

Antagonismo desastrado

A troca de acusações entre os presidentes Hugo Chávez e Álvaro Uribe, que resultou no rompimento de relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia, evidencia o risco para o subcontinente de lideranças pouco responsáveis. No caso específico, o que poderia ser resolvido facilmente com diálogo ameaça derivar até mesmo para um conflito armado. Por isso, na hipótese de o Brasil se responsabilizar pela mediação do desentendimento, é importante que tome o único partido aceitável nesta situação: o da defesa da paz na América do Sul.

O rompimento formal nas relações entre os dois países só não é mais preocupante porque as acusações que o motivaram são recorrentes e pelo fato de o radicalismo estar sendo usado no caso para encobrir problemas internos, particularmente na Venezuela. É possível que o presidente colombiano, no cargo até o próximo dia 7 de agosto, esteja tentando marcar a agenda do sucessor ao denunciar, mais uma vez, a presença, no lado venezuelano, de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN). Mas é o dirigente venezuelano, preocupado com as eleições legislativas de 26 de setembro, quem tem, além de uma permanente disposição para o conflito, razões de sobra para tentar desviar as atenções internas a partir da exacerbação do nacionalismo sob o argumento da ameaça externa.

A Venezuela enfrenta hoje uma sucessão de dificuldades nos âmbitos político e socioeconômico que nem mesmo as sucessivas investidas de seu comandante contra o que elegeu como inimigos contumazes, como a liberdade de imprensa, a iniciativa privada e até mesmo a Igreja, conseguem ocultar. A inflação anualizada ultrapassou 30% em junho, a economia encolheu 3,3% no ano passado e, em conse- quência, os problemas sociais se avolumam, com repercussões que poderão ter influência nas urnas, mesmo numa democracia atípica como a venezuelana.

Os países da América Latina precisam de um ambiente favorável ao crescimento econômico e social para o qual tensões como as registradas neste momento entre Venezuela e Colômbia não contribuem. O agravante é que decisões desse tipo estão longe de contribuir para o ataque ao problema real a presença em países sul-americanos de guerrilhas bancadas por dinheiro de procedência duvidosa, incluindo o narcotráfico, que não podem contar com a benevolência de países democráticos.

Numa região empenhada na integração, como a sul-americana, os dirigentes dos dois paí-ses em conflito precisam se mostrar sensíveis aos apelos do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, de que acalmem os espíritos. Uma eventual insistência nesse antagonismo desastrado não prejudica apenas os dois países, mas toda a região.

Os países da América Latina precisam de um ambiente favorável ao crescimento econômico e social para o qual tensões como as registradas entre Venezuela e Colômbia não contribuem.

Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP

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Crise pode ser oportunidade

Silvio Queiroz

A leitura de cada uma das partes envolvidas direta ou indiretamente pode ser ligeiramente diferente, mas desafio e oportunidade, como no ideograma chinês para a palavra crise, são as noções que balizam a nova crise diplomática entre Venezuela e Colômbia. O rompimento de relações, anunciado por Hugo Chávez na última quinta-feira, invadiu a agenda externa do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que toma posse no próximo dia 7 e já vinha trabalhando ostensivamente em outra frente difícil, com o Equador.

Quanto ao Brasil, que nos últimos oito anos intercedeu reiteradas vezes com os vizinhos às turras, tem pela frente um teste para a liderança regional que pretende exercer, mas igualmente se perfila como beneficiário mais imediato no campo econômico-comercial. Foi em meio a uma bem-sucedida rodada de negociações com o governo equatoriano que a escolhida por Santos para assumir as Relações Exteriores, Maria Ángela Holguín, foi surpreendida pela tempestade na fronteira oriental da Colômbia.

No mesmo dia em que o representante do país na Organização dos Estados Americanos (OEA) apresentava em Washington supostas provas da presença de acampamentos guerrilheiros em território venezuelano, a futura chanceler confirmava que o presidente do Equador, Rafael Correa, irá a Bogotá para a posse do novo colega, que esteve no centro do incidente que azedou suas relações com o governo de Álvaro Uribe, há dois anos.

Isso foi uma manobra do Uribe e dos generais em sua volta para enquadrar desde logo o novo governo, disse um diplomata latino-americano. Ele se referia à decisão do presidente colombiano de levar o caso à OEA a praticamente duas semanas de deixar o palácio. Também não entendo o que deu na cabeça deles (Uribe e Chávez), reforçou outro diplomata, que já serviu em Caracas e Bogotá e exibe familiaridade com o tema, inclusive com seu pano de fundo as quase cinco décadas de conflito entre o Estado e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O representante latino-americano chama a atenção para outro aspecto significativo da nova crise: a ameaça potencial ao Conselho de Defesa Sul-Americano, viabilizado em boa parte pelo prestígio empenhado pelo governo brasileiro para garantir a adesão colombiana.

LIDERANÇA REGIONAL Também para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia reservado o último semestre de governo para trabalhar pela eleição da petista Dilma Rousseff para sucedê-lo, o novo contencioso entre o amigo Chávez e o companheiro Uribe exigirá uma ligeira mudança de planos. Lula e o ministro Celso Amorim vão trabalhar para que a disputa saia do âmbito da OEA onde predominam os Estados Unidos para o contexto sul-americano. Segundo a reportagem apurou, uma solução diplomática na esfera da União de Nações Sul-Americanas é considerada fundamental para consolidar a Unasul e o conselho.

O contrário significaria deixar ao próximo governo a missão inacabada de consolidar instâncias regionais idôneas e capazes de dispensar a intervenção de Washington. De outro lado, porém, o boicote ao comércio com a Colômbia, adotado por Chávez desde o fim de 2008, oferece a empresas brasileiras vastas oportunidades. Ao longo do ano passado, as exportações colombianas para a Venezuela caíram 70%, e Chávez não fez segredo da opção pelo Brasil como fornecedor substituto. De maneira análoga, a diplomacia colombiana acentuou o viés econômico-comercial da relação bilateral com o Brasil, como ficou evidente pela indicação da nova embaixadora em Brasília, Maria Elvira Pombo, que viveu em São Paulo por 13 anos, foi cônsul e atuou com a Proexport, agência de promoção comercial que lhe permitiu cultivar laços firmes e oportunos nos meios empresariais, em particular com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Chávez pede desarmamento da guerrilha colombiana

Presidente venezuelano sugere que as Farc deixem as armas e destaca Lula e Mujica como exemplos de uma nova postura política. Equador marca reunião emergencial da Unasul.

Viviane Vaz

Brasília Para acabar com o conflito bilateral entre seu país e a Colômbia, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sugeriu às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que deixem o caminho das armas. Para ele, a estratégia armada dos grupos guerrilheiros tem servido de pretexto para as trocas de farpas entre seu governo, o do colombiano Álvaro Uribe e o dos Estados Unidos que ele insiste em chamar de império ianque. E para demonstrar que o mundo não é mais o mesmo dos anos 1960, quando as guerrilhas de esquerda começaram a lutar pelo poder na Colômbia, Chávez recordou alguns exemplos no Brasil e na região. Aí está Pepe Mujica (ex-guerrilheiro Tupumaro, presidente do Uruguai), está Daniel (Ortega, presidente da Nicarágua), está Evo (Morales, presidente da Bolívia), está Lula e estará Dilma (Rousseff), enfrentando as oligarquias e o imperialismo, destacou Chávez à audiência formada por sindicalistas latino-americanos.

A guerrilha colombiana deveria considerar seriamente o chamado que lhe fazemos. O mundo de hoje não é o mesmo dos (anos) 60. Deveriam reconsiderar sua estratégia armada. Acho que não há condições na Colômbia para que eles em um prazo previsível possam tomar o poder, disse em um ato público divulgado pela televisão estatal na noite de sexta-feira. O mandatário venezuelano completou que a luta armada serve de desculpa para os Estados Unidos "penetrarem" na Colômbia e agredirem os países vizinhos.

Ontem, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um pedido para uma reunião de emergência do bloco à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), com o objetivo de buscar soluções para o conflito. Quero pedir ao presidente interino da Unasul, ao presidente (equatoriano Rafael) Correa, que convoque emergencialmente os 12 presidentes da Unasul, e que sejamos nós que resolvamos este problema entre a Colômbia e a Venezuela", disse Morales em discurso na região produtora de coca das Yungas. A Venezuela já havia solicitado uma reunião da Unasul.

Mais tarde, o governo equatoriano, que exerce a Presidência rotativa do bloco, concordou com o pedido e, na tarde de ontem, informou que a reunião deverá ocorrer na quinta-feira. O encontro foi coordenado pelo chanceler equatoriano, Ricardo Patiño. "A agenda proposta abordará, como pontos principais, o rompimento de relações entre a Venezuela e a Colômbia e a adoção de mecanismos que possibilitem o fortalecimento do diálogo e da paz na região", acrescentou o texto do comunicado.

No mesmo dia, em um ato público em Pernambuco, Lula afirmou que vai conversar pessoalmente com Chávez em uma visita a Caracas, prevista para 6 de agosto, e que estranhou o fato de o presidente colombiano, Álvaro Uribe, ter feito uma denúncia contra o país vizinho à Organização dos Estados Americanos (OEA) pouco mais de um mês antes de deixar o governo. As Farc são um problema da Colômbia e acho que deve ser tratado pela Colômbia. Os problemas da Venezuela devem ser tratados pela Venezuela, completou Lula.

Em uma turnê pelos países latino-americanos, o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, prefere a tática do silêncio e da discrição até assumir o cargo em 7 de agosto. Ele se reuniu ontem com o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, e fez declarações públicas, sem tocar no tema da tensão entre Colômbia e Venezuela. Ele está hoje na Costa Rica, onde se encontra com a presidente Laura Chinchilla.

O presidente colombiano disse que o ataque foi produto do estado de necessidade e não é o ideal ante o direito internacional. Pedimos perdão ao Equador. Uribe lançou ontem uma campanha nacional para incentivar o comércio de Cúcuta, cidade na fronteira com a Venezuela das mais afetadas pela crise bilateral. Que as companhias aéreas disponibilizem muitas passagens baratas para Cúcuta, que o comércio tenha as melhores mercadorias. Que às 17h, às 18h não tenham mais o que vender. Não vamos te abandonar, Cúcuta, disse Uribe.

ACUSAÇÕES Ontem, fontes policiais colombianas revelaram ao jornal venezuelano El Universal que os máximos representantes das Farc se reuniram com funcionários de 2002 a 2009, segundo demonstram as evidências reunidas no computador de um dos líderes guerrilheiro, Luis Edgar Devia, mais conhecido por Raúl Reyes.

Ao todo, os policiais tiveram acesso a 1.145 documentos com referências à Venezuela, incluindo antigos funcionários do governo Chávez. Entre eles estariam textos e imagens sobre a presença de familiares de "Marcos Calarcá" na Venezuela, que "representava" as Farc no México, até ser expulso pelo então presidente mexicano, Vincent Fox, em 2002. Atualmente, Calarcá seria o porta-voz internacional da guerrilha.

Os documentos mencionados pelos policiais estabelecem as coordenadas de três acampamentos das Farc no Noroeste do território venezuelano: o Bolivariano (N10°4042 W72°3203); o Ernesto (N10°4103 W72°3203) e o Berta (Santrich) (N10°4051 W72°3026). Segundo o embaixador colombiano para a OEA, Luis Alfonso Hoyos, essas provas foram entregues a Chávez "há muitos anos", mas não obtiveram "nenhuma resposta" do governo venezuelano. Hoyos ressalta que a guerrilha estaria nos quatro estados venezuelanos que fazem fronteira com a Colômbia: Zulia, Táchira, Apure e Amazonas.

Fonte: ESTADO DE MINAS, via NOTIMP

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Brasil quer pacto militar entre vizinhos

Em meio à nova crise entre Caracas e Bogotá, país pede acordo de cooperação para monitoramento da fronteira. Marco Aurélio Garcia afirma crer que esforço conjunto apaziguaria de vez "área de altíssima explosividade".

ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O Brasil irá reativar a proposta de cooperação entre as Forças Armadas da Venezuela e da Colômbia para monitorar a fronteira dos dois países, como forma de solucionar, "em definitivo", o impasse entre Caracas e Bogotá.

Na quinta-feira, presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas com a Colômbia após esta apresentar à Organização de Estados Americanos (OEA) denúncias de presença de guerrilheiros colombianos no país vizinho.

Em entrevista à Folha , o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou que uma colaboração efetiva entre os dois países, nos moldes do que ocorreu entre a Colômbia e Equador para o monitoramento conjunto da fronteira, deve voltar à mesa de discussão sob a chancela do Brasil.

"A partir daí, a conflitividade estaria eliminada, e poderia se pensar em um pacto de não agressão", afirmou.

O assessor deve viajar para os dois países no início de agosto em companhia do secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -que vai à Venezuela no dia 6 e, dali, segue para a posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.

"O sentimento geral na região é que há um enorme corpo de bombeiros formado", diz. "São dois grandes países, que têm uma posição histórica de pequenos conflitos e muita afinidade. Queremos reforçar essa afinidade."

Segundo ele, a proposta de colaboração entre as Forças Armadas não teve muita aceitação no ano passado, mas agora há "outro ambiente". A posse de Santos pode ser positiva. "Às vezes alguém que parece [ser] muito numa determinada direção é capaz de fazer reformas que outros não fizeram", diz, em referência a Álvaro Uribe.

Na proposta de monitoramento -classificada por Garcia de "uma área de altíssima explosividade"-, o controle seria feito com mecanismos como aviões não tripulados, além de efetivos militares conjuntos. "É possível neutralizar aquela zona e transformá-la num fator de paz."

Garcia baseia seu otimismo no que considera uma "mediação exitosa" do Brasil em dois outros episódios turbulentos na região. Um foi o sequestro patrocinado por Bogotá de um alto membro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em Caracas.

Outro, mais recente, foi a reaproximação entre Colômbia e Equador após os dois países romperem relações diplomáticas por uma operação de Bogotá contra as Farc em território equatoriano.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP

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O fardo de Juan Manuel Santos se chama Chávez

Principal desafio do novo presidente colombiano, que toma posse no dia 7, é lidar com as explosões do vizinho e reatar as relações com a Venezuela.

DARCY CROWE
DOW JONES NEWSWIIRES/Agência Estado

BOGOTÁ Faltam menos de duas semanas para que Juan Manuel Santos seja empossado presidente da Colômbia, mas ele já está diante de um de seus mais complicados desafios: as explosivas relações diplomáticas com a Venezuela do presidente Hugo Chávez.

O presidente Álvaro Uribe deixa para Santos um legado de melhora no setor de segurança e níveis recordes de investimento estrangeiro. Mas, de quebra, Santos herdará um histórico de confrontação com Chávez.

Os problemas entre Uribe e Chávez ganharam um novo capítulo na quinta-feira, quando o líder venezuelano anunciou o rompimento das relações diplomáticas e deu aos diplomatas colombianos 72 horas para deixar a Venezuela prazo que se encerra hoje. A decisão de Chávez veio à tona apenas algumas horas depois de a Colômbia ter denunciado a Venezuela perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) por supostamente tolerar em seu território, perto da fronteira compartilhada entre os dois países, a presença de aproximadamente 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN).

Para Santos, o rompimento das relações representa um desafio a seus planos para a economia e para a segurança da Colômbia. Ao longo do último ano, os exportadores colombianos perderam bilhões de dólares por conta da deterioração das relações. Em 2009, Chávez congelou o comércio depois de a Colômbia ter anunciado um acordo com os Estados Unidos para instalação de bases militares em seu território. O congelamento levou a uma redução de 70% das exportações colombianas à Venezuela, até então o segundo maior parceiro comercial da Colômbia, atrás apenas dos Estados Unidos.

Assim como Uribe, Santos deseja a ajuda venezuelana no combate às Farc. Alguns analistas acreditam que o contingente do grupo guerrilheiro chegue a 8 mil homens. Nos últimos três anos, Uribe tentou confrontar a Venezuela por esta não colaborar com o combate às Farc, observa Laura Gil, analista política estabelecida em Bogotá. Isto não rendeu nenhum resultado. Portanto, Santos tentará uma nova abordagem e deseja boas relações diplomáticas, avalia.

Em visita ao México quando Chávez anunciou o rompimento das relações, Santos declarou que a melhor contribuição a ser feita é não comentar o episódio.

Apesar de Chávez ter ordenado alerta máximo na fronteira, a maior parte dos especialistas acredita ser pouco provável que as desavenças venham a resultar em um conflito armado. É improvável que este atrito transforme-se num conflito militar aberto entre as duas nações, escreve Alberto Ramos, um economista do banco Goldman Sachs, em um relatório no qual aborda a crise diplomática.

Laura acredita que o verdadeiro desafio para Santos será restabelecer relações diplomáticas com a Venezuela, tarefa esta que talvez seja praticamente impossível dadas as profundas divergências ideológicas entre Chávez e o presidente eleito.

Filho de uma rica e influente família de Bogotá, Santos personifica de diversas formas os oligarcas que Chávez e seus correligionários socialistas consideram inimigos. Graduado em Harvard e na London School of Economics, Santos defende ideias de livre mercado desprezadas por Chávez. Santos já foi alvo de Chávez no passado, tanto durante a campanha quanto na época foi ministro da Defesa de Uribe.

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO, via NOTIMP

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Chávez tenta desviar a atenção

Antonio Ledezma, prefeito de Caracas

Ele se apresenta, no contato com Zero Hora, como Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, contra o vento e a maré. As circunstâncias transformaram Ledezma em líder da oposição na Venezuela. As adversidades o forjaram como um símbolo. E é assim, também, que ele se define nesta entrevista. Por quê? Porque o oposicionista Ledezma, 55 anos, teve seus poderes como prefeito do Distrito Metropolitano de Caracas (o equivalente a prefeito da região da Grande Caracas) esvaziados por Hugo Chávez. O presidente criou a Autoridade Única do Distrito Capital e assumiu atribuições locais. Na prática, uma intervenção (leia o texto o desabafo do prefeito nesta página), que levou Ledezma a uma greve de fome um ano atrás.

A entrevista seria concedida por telefone, quinta-feira à noite. Mas um assessor, Antonio Sánchez, desculpou-se: com a ruptura das relações entre Venezuela e Colômbia, a oposição venezuelana entrou em reunião permanente para analisar o episódio. Ledezma, então, escreveria as respostas de madrugada e as enviaria por e-mail.

Na manhã de sexta-feira, tudo certo: ali, no computador, dormiam as ácidas respostas do prefeito. Confira a seguir os principais trechos da entrevista, na qual ele diz que a Venezuela tem 1,5 mil integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em seu território a acusação do presidente colombiano, Álvaro Uribe, foi o motivo do rompimento diplomático por parte de Chávez, na tarde de quinta. Mais: que Chávez usa o rompimento como cortina de fumaça para encobrir seu pior momento.

Zero Hora - O que Chávez pretende ao romper relações com a Colômbia?

Antonio Ledezma: Jogar uma espessa cortina de fumaça sobre um problema real: a existência de acampamentos das Farc em território venezuelano, com tropas de combatentes da narcoguerrilha, na ordem de 1,5 mil guerrilheiros, o que a Mesa da Unidade Democrática, que reúne todos os partidos democráticos, denunciara em diversas ocasiões. As Farc estão na Venezuela. As andanças de seus altos dirigentes em nosso país e suas prováveis relações com Hugo Chávez são motivo de preocupação na Venezuela faz muitos anos. Há quem pense que, por trás dessas andanças, está o sonho da Grande Colômbia, de Simón Bolívar, de construir uma só nação entre os dois países. Por isso, a permanente ingerência de Chávez nos assuntos internos da Colômbia. Sem mistérios para nós, venezuelanos, que sofremos com centenas de sequestros e assassinatos, sobretudo na fronteira entre os dois países, mas também no coração da república. As denúncias da Colômbia na OEA (quinta-feira passada) não nos surpreendem. Que a região abra os olhos ante o grave perigo que representa um autocrata armado até os dentes.

ZH - Chávez tem tomado iniciativas cada vez mais polêmicas, como a exumação dos restos de Simón Bolívar e o próprio rompimento com a Colômbia. O que ele pretende?

Ledezma: O governo de Chávez passa pelo pior momento desde que chegou ao poder, faz 11 anos. A crise econômica, social e política é gravíssima. Temos a mais alta inflação da região e uma das três mais altas do mundo. O desemprego, o alto custo de vida, o colapso dos serviços públicos com escassez de água e cortes de energia elétrica , a crise hospitalar e a insegurança são açoites para uma população que depositou suas esperanças em promessas e que hoje está desencantada. Em vez de solucionados, problemas foram agravados. Foi descoberto um escândalo pavoroso: 160 mil toneladas de alimentos podres, abandonados. Tudo isso resultado da voracidade dos funcionários do governo, que importaram os alimentos com o objetivo de cobrar comissões. Essa crise explode em meio a um processo eleitoral importante: em 26 de setembro, haverá eleições para renovar a Assembleia Nacional (Congresso), na qual hoje predominam os representantes do governo, sem qualquer contrapeso. É uma Assembleia que atua como escritório particular do presidente, com o objetivo de montar uma legalidade ditatorial. As pesquisas mostram maioria clara e categórica para os setores democráticos (a oposição, segundo Ledezma). Chávez acredita que poderá encobrir seu desastre, desviar a atenção das pessoas, levantando o fantasma da guerra, exumando os restos de Bolívar com fins inconfessáveis.

ZH - A oposição mudará sua estratégia, que permitiu o domínio chavista na Assembleia?

Ledezma: Temos A (em maiúscula) estratégia. A oposição venezuelana aposta em uma saída constitucional, pacífica e eleitoral para a crise que vivemos, em um paciente trabalho de reconstrução. Vamos avançando até culminar com a derrota eleitoral de Chávez em 2012.

ZH O preço mais baixo do petróleo pode ser um problema para o chavismo, que tanto se aproveitou dos preços altos para convertê-los em ações sociais?

Ledezma: Com US$ 990 bilhões, ele enriqueceu seu entorno, promoveu sua egolatria, comprou consciências, alimentou a voracidade de seus aliados e correu o mundo comprando armas. Não é casual que Lula tenha dito textualmente: Chávez é um pouco louco, mas muito generoso. E lhe devolveu o favor dizendo que o seu era o melhor governo dos últimos cem anos de história venezuelana. Chávez presenteou seus aliados com US$ 57 bilhões. Só a Cuba são presenteados mais de US$ 5 bilhões anuais. Agora, acabaram as vacas gordas, e o país é um pântano apocalíptico. Os venezuelanos despertam com a sensação de um porre homérico, de uma festa que não lhes deixou nada nas mãos. O melhor governo dos últimos cem anos é um desastre.

ZH Ao permitir o ingresso da Venezuela no Mercosul, o bloco respalda Chávez?

Ledezma: Já não há nada que possa respaldá-lo. Uma coisa é seu governo, fracassado e a ponto de cair, e outra é a Venezuela. Ao Mercosul, não entra Chávez. Entra a Venezuela.

ZH Como o sr. vê Chávez ser aliado do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?

Ledezma: ... E de Robert Mugabe (do Zimbábue) e muitos outros ditadores. Megalomaníaco, quer conjugar seu projeto com o delírio de uma aliança antiamericana em nível planetário.

Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP




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