Aeroportos e aéreas embarcam na paquera rápida
Daniel Michaels
The Wall Street Journal, de Toulouse
Num sinal promissor para a combalida indústria de aviação, as companhias aéreas e os aeroportos voltaram a se paquerar. Quando o tráfego aéreo desaba, como nos últimos dois anos, as aéreas eliminam rotas e diminuem a frequência dos voos, prejudicando os aeroportos. Quando o tráfego aéreo volta a crescer, as empresas renovam sua programação de voos.
Enquanto isso, os aeroportos tentam manter o volume de passageiros com iniciativas para preservar os voos atuais e atrair novas companhias aéreas que preencham as lacunas. Os dois lados se reúnem no equivalente do setor aéreo para os bailes de solteiros: as conferências em que as aéreas buscam aeroportos que prometem novos e lucrativos mercados, e em que os aeroportos tentam seduzir as aéreas para que propiciem mais tráfego de passageiros.
"É como "speed-dating" para aéreas e aeroportos", disse mês passado Daniel Burkard, diretor de desenvolvimento de negócios do Aeroporto Internacional Domodedovo, de Moscou, numa convenção do tipo em Toulouse chamada Routes Europe.
Diferentemente da maioria dos eventos do setor, em que uma série de convidados realiza palestras e os participantes fazem contatos nos intervalos, os eventos do Routes são criados para propiciar contato direto. A organização do evento - com salões repletos de mesas - lembra um torneio de bridge. Cada aérea recebe pelo menos uma mesa, onde os responsáveis pelo planejamento das rotas ficam abertos a conversas.
Os aeroportos marcam reuniões com aéreas específicas durante dias inteiros de sessões de 20 minutos. Projetam-se cronômetros nas paredes e um mestre de cerimônias avisa quantos minutos faltam em cada sessão.
O evento de Toulouse reuniu dezenas de aéreas e aeroportos de lugares tão distantes quanto Canadá e Paquistão. A participação subiu 17% em relação à conferência europeia de 2009, disse Nadine Wenn, porta-voz da empresa que organiza os eventos, a Route Development Group Ltd. A empresa, sediada em Manchester, Inglaterra, foi uma das primeiras a organizar esse tipo de reunião, 15 anos atrás.
A conferência europeia ocorreu ao mesmo tempo em que as aéreas mundiais divulgavam alta de 5,8% no tráfego nos primeiros quatro meses do ano, se computado o número de passageiros transportados e a distância que voaram, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo, a Iata. A recuperação estava até mais vigorosa antes que o vulcão islandês Eyjafjallajökull entrasse em erupção em 15 de abril, gerando caos no transporte aéreo europeu e transatlântico.
O preço médio das passagens continua bem menor que antes da crise econômica, algo que prolonga os problemas financeiros das aéreas. Mas executivos do setor dizem que as passagens geralmente sobem depois que o tráfego de passageiros aumenta. Um sinal disso é que as passagens mais baratas nos Estados Unidos e na Europa estão bem mais caras agora do que na mesma altura de outros anos recentes, dizem analistas.
O contínuo crescimento das aéreas mais baratas é outro fator que impulsiona o desenvolvimento de novas rotas. Os aeroportos, que lucram com as compras e refeições dos viajantes, não importa em qual avião embarcam, estão agora ansiosas para atrair aéreas barateiras. No evento de Toulouse, as maiores aéreas de baixo custo da Europa, como a irlandesa Ryanair Holdings PLC, a britânica easyJet PLC e a Wizz Air Hungary Airlines Ltd., da Hungria, foram as mais cobiçadas pelos aeroportos.
"Os aeroportos estão descobrindo que precisam atrair mais aéreas baratas para continuar crescendo", disse Janos Barits, gerente de desenvolvimento de rotas da Wizz Air.
Raramente se fecham acordos nas conferências Routes. Mas as reuniões são úteis para negociar, descobrir tendências e obter informações exclusivas sobre o setor, dizem participantes.
"Estudamos os mercados onde não voamos assim como os mercados em que operamos", disse Robert Hill, diretor de planejamento de rotas da American Airlines, da AMR Corp., entre uma sessão e outra. Hill disse que as conferências da Routes são "muito valiosas", em parte porque a American pode descobrir quais os destinos novos que seus concorrentes estão atendendo.
Nas breves sessões, os aeroportos precisam agir rapidamente. O diretor executivo da Routes, Nigel Mayes, calcula que dos 20 minutos mais de 5 sejam gastos com apresentações e trivialidades.
Isso deixa no máximo 15 minutos para os participantes apresentarem suas ofertas.
"São 20 minutos corridos", disse Khaled Khabbazeh, analista de dados de tráfego do Aeroporto Internacional Rainha Alia, em Amã, Jordânia. Mesmo assim, diz, é uma ótima maneira de se divulgar.
Os aeroportos pagam à Routes até US$ 4.000 por pessoa que enviarem à conferência. As aéreas, por outro lado, participam de graça porque os organizadores querem que muitas delas estejam presentes.
A Routes foi fundada em 1995 pela Airport Strategy & Marketing Ltd., uma consultoria de Manchester que oferece serviços para aeroportos e agora é subsidiária da Routes. Os gerentes da ASM não conseguiam marcar reuniões entre seus clientes e as aéreas, então desenvolveram a abordagem das sessões rápidas. A primeira conferência do tipo foi realizada em Cannes, na França, e só atraiu 60 pessoas, disse o diretor operacional da Routes, David Stroud. Hoje em dia, os seis eventos que a empresa realiza por ano atraem mais de 5.000 pessoas, afirma a ASM.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP