Variação cambial reduz em 61% lucro da Gol no primeiro trimestre
Alberto Komatsu, de São Paulo
A companhia aérea Gol divulgou ontem um lucro líquido de R$ 29,3 milhões no primeiro trimestre, um recuo de 61% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a empresa ganhou R$ 61,4 milhões. Já a comparação com o ganho de R$ 397,8 milhões do quarto trimestre de 2009 mostra que o resultado de janeiro a março foi 92,6% menor. O que provocou a queda, segundo o vice-presidente da empresa, Leonardo Pereira, foi a valorização do dólar diante do real no período.
O lucro operacional da Gol, de R$ 191,4 milhões no primeiro trimestre, teve expansão de 82,1% na comparação com igual intervalo do ano passado. Em relação ao quarto trimestre, o crescimento foi de 60,6%.
Pereira destaca a margem operacional da companhia, que é a relação entre lucro operacional e receita líquida. A margem ficou em 11,1%. O executivo conta que a meta é encerrar 2010 com margem entre 10% e 13%.
"Margem operacional é um negócio fundamental para a gente continuar crescendo. Se você me perguntar qual é a margem operacional dos meus sonhos, eu digo que é acima de 18%, 20%. Isso é o ideal", diz Pereira. Ele lembra que a maior margem operacional da Gol, em torno de 30%, foi registrada em 2004. "Mas os níveis de preço do dólar e do barril de petróleo eram diferentes", acrescenta.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e gastos com leasing de aviões foi de R$ 405 milhões de janeiro a março, o melhor resultado trimestral em nove anos de atividade. O montante foi 12,7% maior do que os R$ 359,3 milhões do primeiro trimestre do ano passado. O crescimento foi de 39,6% na comparação com os R$ 290,1 milhões de outubro a dezembro de 2009.
O analista de setor aéreo da Planner Corretora, Brian Moretti, destaca que a boa performance operacional da Gol foi obtida, principalmente, pela maior utilização dos aviões, uma média de 11,3 horas para 13 horas por dia.
Embora o mercado tenha recebido bem os resultados operacionais da companhia, ele afirma que o desempenho das ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da empresa não conseguiu se descolar do temor generalizado de crise na Europa. Os papéis da aérea fecharam o pregão de ontem cotados a R$ 21,90, uma queda de 5,4%.
"A valorização do dólar preocupa por causa do seguro das aeronaves e do preço do barril de petróleo. O investidor penaliza a companhia no curto prazo", afirma Moretti. De acordo com o analista, a Gol fez contratos de hedge de combustível que vencem no segundo trimestre no valor de US$ 85,6, mas o mercado tem receio que esse patamar possa ser ultrapassado com a variação cambial.
A receita líquida da Gol teve expansão de 14%, ao passar de R$ 1,51 bilhão no primeiro trimestre de 2009 para R$ 1,72 bilhão nos três primeiros meses deste ano. O crescimento foi de 6,9% ante o quarto trimestre do ano passado.
Os custos e despesas operacionais da empresa ficaram em R$ 1,53 bilhão, o que significou um aumento de 9% diante de janeiro a março de 2009. Já a disponibilidade de caixa e as aplicações financeiras somaram R$ 1,49 bilhão, o que representou um crescimento de 3,8%.
"Entendemos que o bom momento da atividade econômica, aliado ao fato de a Gol não ser uma empresa "low fare" de fato [mas sim em relação a sua principal concorrente, a TAM], deve fazer com que a companhia obtenha resultados semelhantes a esses nos próximos trimestres", afirma o analista de aviação da Link Investimentos, Felipe Rocha, por meio de relatório divulgado ontem.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP