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Piloto automático em xeque





Um capitão retornou para a cabine depois de ter ido ao banheiro e viu o primeiro comandante se afastar dos instrumentos e falar com uma comissária de bordo. O que não se notou foi o fato de o piloto automático ter se desconectado fazendo o avião correr o risco de cair.

O incidente é apenas um de mais de uma dezena num relatório do setor aéreo em que os pilotos não monitoraram de forma apropriada o voo, a automação ou até a localização do avião. O relatório, divulgado em 2008, volta à tona em face do mais recente exemplo de pilotos desatentos: um voo da Northwest Airlines ultrapassou seu destino em mais de 150 milhas antes de retornar ao aeroporto, em outubro passado.

Especialistas discutem se esses incidentes são sintomas de um problema maior na cabine: os aviões estão tão automatizados que os pilotos estão se tornando complacentes? A questão estará na pauta em conferência de três dias, em Washington, a partir de terçafeira, quando a National Transportation Safety Board (NTSB), organização independente que investiga acidentes de transportes, aborda o profissionalismo de pilotos e de controladores de tráfego.

– Nós na NTSB continuamos a ver acidentes e incidentes como o evento do voo 188 da Northwest – revela um membro da organização, Robert L. Sumwalt. – Temos prova de que os pilotos ainda não monitoraram de forma adequada os trajetos do voo.

O problema dos pilotos perdendo controle de algum aspecto de voo não é novo. Existe, na verdade, quase desde o surgimento da tecnologia que permite que computadores desempenhem funções de piloto.

Em 2002, Sumwalt foi um dos autores de trabalho dizendo que os pilotos não monitoravam de forma adequada o que o avião fazia em 50% a 75% dos erros analisados. O relatório foi feito depois de vários incidentes, incluindo um em 1996, quando pilotos de um avião da Continental Airlines não se certificaram se o trem de pouso tinha sido baixado de forma apropriada antes da aterrissagem.

– Humanos não são bons monitores de sistemas altamente automatizados por longos períodos.

Não se pode esperar que alguém seja extremamente vigilante por cinco ou sete horas – observa Sumwalt, que foi piloto por 24 anos na Piedmont, depois comprada pela US Airways.

Nem todos os especialistas concordam. A Administração Federal de Aviação (FAA em inglês) disse que nem o voo da Northwest nem outros incidentes examinados pela indústria de linhas aéreas indicaram um problema maior.

– Se tivéssemos qualquer suspeita ou análises, estaríamos agindo para fazer mudanças em relação a isso – diz o administrador da agência, J.

Randolph Babbitt.

Para ele, a FAA se mostrou mais preocupada com o fato de os pilotos, confusos pela complexa automação, estarem perdendo controle do que o avião estava fazendo.

Os pilotos da Northwest usavam, segundo Babbitt, laptops, fazendo trabalho sem qualquer relação com o voo, uma atividade proibida.

– Não tem nada a ver com automação. Qualquer oportunidade para distração não tem que ocorrer na cabine; o foco deve estar em pilotar o avião – afirma.

Automação é geralmente considerada aspecto positivo na segurança da aviação, porque reduz o trabalho do piloto e elimina erros na navegação.

– A automação trouxe coisas boas – elogia Key Dismukes, cientista-chefe para fatores humanos aeroespaciais da Nasa, sobre a mudança da natureza do papel do piloto na cabine. – Agora, o piloto é um gerente, o que é bom, e um monitor, o que não é tão bom.

De acordo com Hugh Schoelzel, vice-presidente de segurança da Trans World Airlines (adquirida pela American Airlines), a maioria dos pilotos perdeu, uma vez ou outra, controle de onde estavam no voo. – Quem negar isso está sendo falso, ou não tem prestado atenção – condena.

O episódio em que o capitão que retornou à cabine teve de agir rapidamente para salvar o avião de uma tragédia foi descoberto pelo Commercial Aviation Safety Team, grupo que analisou milhares de relatórios feitos pelos pilotos para o Sistema de Relatório de Segurança da Nasa para ver se a automação levou os pilotos a manejarem mal os problemas ou a ficarem confusos ou distraídos.

O estudo do grupo, que vai de 2005 a 2008, destacou 50 eventos nos cinco anos antes de 2005. Em 16 deles, citou-se o fracasso dos pilotos para monitorar a automação ou a localização da aeronave.

– Estou inclinado a dizer que excesso de confiança nos tira do rumo – diz Dismukes. Mas é difícil manter isso em prática quando não se está controlando fisicamente a aeronave.

Encontrar o equilíbrio entre muita e pouca tecnologia é fundamental, de acordo com William B. Rouse, professor de engenharia do Instituto de Tecnologia da Geórgia.

Fonte: JB ON LINE, via NOTIMP




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