Justiça quer acerto de contas com Joe Sharkey
Marcelo Ambrosio
Até que enfim vejo que não fui só eu a ter ficado indignado com o comportamento do blogueiro do The New York Times, Joe Sharkey, no episódio do desastre com o voo 1907 da Gol. Para quem não se recorda de quem falo, Sharkey ia de carona no Legacy pilotado pelos kamikazes Joe Lepore e Jean Paul Paladino, cuja negligência criminosa custou a vida de 154 passageiros e tripulantes de um Boeing da Gol. Dois dias depois do acidente, postou um relato repleto de ironias em seu blog, atribuindo aos colegas de bordo o epíteto de heróis. Além de tratar com enorme ironia as autoridades e o clamor de revolta dos brasileiros, foi de um aviltante desdém para com os passageiros que, indireta e involuntariamente, ajudou a matar.
Agora, a Justiça brasileira está no encalço dele: três processos por calúnia, injúria e difamação correm contra Sharkey.
Para mim, não importa o que aconteça, Lepore e Paladino são dois homicidas. Tanto quanto os controladores incompetentes da Aeronáutica que os ajudaram a provocar o desastre. Mas por voarem com o transponder desligado e negligenciarem regras básicas de segurança de voo, merecem pagar por todas as mortes.
O governo brasileiro, em uma decisão vergonhosa e que revoltou inclusive oficiais da FAB acostumados a lidar com investigações, liberou a ambos. O resultado: sorridentes, tranquilos, sendo recebidos como heróis em Atlantic City e na televisão americana, sempre etnocentrista.
Enquanto isso, Sharkey ficou à sombra. E não deveria. Mentiu descaradamente em juízo e continuou a atribuir erros e a fazer críticas improcedentes aos brasileiros – chegando a culpar o controle de tráfego de Recife pelo desastre com o voo AF447 da Air France. Mas o artigo do NYT é a maior prova do perjúrio, já que no texto descreve como o piloto, Lepore, estava fora da cabine quando o choque com o Boeing ocorreu. À Justiça Federal, no entanto, que o ouviu antes da publicação, havia negado ter visto qualquer coisa.
O caráter de Sharkey pode ser visto por frases sobre autoridades como “Lula e seus 40 ladrões”, ou pela definição do próprio Brasil, como uma terra de “de samba, bananas, carnaval e prostitutas”.
Eu mesmo postei uma contestação ao que ele havia escrito no blog, principalmente pelo desrespeito às famílias das vítimas, mas o NYT incluiu uma moderação no espaço, de modo que opiniões de brasileiros passaram a não serem publicadas.
Uma das ações, da viúva Rosane Gutjhar, iniciada em setembro de 2008, mostrou como Joe Sharkey é: depois de evitar a intimação da Justiça brasileira e de se recusar a recebê-la, ele se escondeu.
Pediu à mãe que dissesse ao oficial de justiça que se mudara.
A intimação acabou sendo entregue no fim do ano passado, mas até hoje o blogueiro não apresentou sua defesa.
A segunda ação, proposta pelo advogado e representante das famílias das vítimas, Dante D’Aquino, também é por calúnia, mas como os atingidos são entes federais (como o presidente, a Polícia Federal e o Congresso), aguarda-se que todos se pronunciem sobre a acusação. A terceira e última ação é uma interpelação criminal, com base no artigo 144 do Código Penal, determinando que Joe Sharkey preste declarações antes de uma ação penal. Carta rogatória foi enviada aos Estados Unidos.
Tanto Sharkey, quanto Lepore e Paladino não podem escapar impunes. Os dois pilotos continuam a voar nos EUA, o que é um absurdo até pelas leis de lá. Por muito menos um piloto americano perde a licença. Mas como as vidas de brasileiros valem menos, então está tudo correndo às mil maravilhas.
Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP