Cresce importação por avião na Zona Franca
Marta Watanabe e Alberto Komatsu
Puxadas pela produção de televisores e eletroeletrônicos para o mercado interno, as importações da Zona Franca de Manaus crescem em ritmo forte e estão fazendo as indústrias locais trocarem a via marítima pela aérea para a compra de insumos do exterior.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os desembarques por avião no Amazonas saltaram de 37,8% do total das importações do Estado em 2008 para 40,71% no ano passado. De janeiro a março o transporte aéreo avançou para 42,2%. O ganho se deu num período em que as importações aumentaram. No primeiro trimestre o Amazonas importou US$ 2,2 bilhões, com aumento de 57% em relação ao mesmo período do ano passado.
A expectativa é que a mudança de modal se consolide até o fim do ano. Maurício Loureiro, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), explica que até o ano passado Manaus recebia três a quatro voos internacionais que desembarcavam cargas em Manaus. "Com essa mudança, no segundo semestre teremos de 15 a 20 voos por dia", acredita.
Além da venda de televisores por conta da Copa do Mundo, as indústrias contam com forte demanda por eletroeletrônicos e produtos de informática. "Se o país crescer entre 5% e 6%, a Zona Franca cresce de 8% a 9%", diz Loureiro
O transporte por avião é mais caro, mas mais ágil. "Um avião de carga da Ásia chega a Manaus em sete dias. A via marítima demora de 40 a 45 dias", explica Loureiro. "O modal aéreo custa pelo menos 50% mais, mas o giro da produção tem justificado o frete mais caro."
De acordo com dados da Infraero, o aeroporto de Manaus fechou o primeiro quadrimestre com 242% de aumento no volume de cargas movimentadas em relação ao mesmo período de 2009. Parte dessa elevação deve-se à greve nos portos asiáticos no início do ano, o que forçou as indústrias de Manaus a migrar as importações para a via aérea. Mas além da greve, diz Geraldo Moreira, diretor-comercial da Infraero, a mudança de modal contribuiu para a forte elevação.
A Infraero, segundo Moreira, já contava com aumento das importações para 2010 em razão da perspectiva de crescimento econômico. A estimativa, baseada em consulta às próprias indústrias de Manaus, diz, era de crescimento entre 30% e 40%. O número não contabilizava a greve e nem a mudança de modal feita pelas empresas em função do aumento de produção.
O aeroporto internacional de Manaus tem sido o mais beneficiado entre os quatro principais aeroportos de carga do país com o aumento da utilização do transporte aéreo para a importação. No primeiro bimestre, o terminal acumula crescimento de 371,8% em remessas internacionais, considerando-se exportações e importações, sendo que em torno de 65% do volume movimentado é de desembarques de produtos do exterior.
O levantamento é do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), com dados da Infraero. Em volume, Manaus movimentou no primeiro bimestre 24,1 milhões de toneladas de cargas internacionais. No mesmo período do ano passado, foram 5,1 milhões de toneladas. Os dados abrangem empresas brasileiras e estrangeiras.
"Com a desvalorização do dólar, as indústrias estão aproveitando para importar insumos. Fica mais fácil fazer isso do que produzir por aqui. Em época de Copa, Manaus está com muita demanda de peças para TVs", afirma o consultor do Snea, brigadeiro Allemander Pereira Filho. De acordo com ele, que também foi diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o crescimento do fluxo de cargas em Manaus já está gerando alguns gargalos, como a falta de pessoal para desembaraço de cargas.
O Aeroporto Internacional de Viracopos registrou no primeiro bimestre a segunda maior taxa de crescimento no volume de cargas internacionais, de 40,6% na comparação entre os dois primeiros meses do ano. Guarulhos vem na terceira posição, com 17,6%, seguida pelo Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim (Galeão), com taxa de 11%.
A TAM Cargo, divisão de cargas da maior empresa aérea brasileira no transporte de passageiros, também está sendo beneficiada com o aumento das importações. O vice-presidente-comercial de Planejamento da TAM, Paulo Castello Branco, conta que o crescimento das importações no primeiro trimestre foi de 23%, em relação ao mesmo período do ano passado.
A TAM Cargo não tem frota própria, pois utiliza os porões das aeronaves. Só o modelo 777, da Boeing, tem capacidade para carregar 28 toneladas. "O que está motivando o crescimento das importações é a retomada da economia brasileira", afirma o executivo. Segundo ele, as importações respondem por cerca de 60% da movimentação de cargas da empresa.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP