A redenção do Rio começa na pista
O primeiro contato que o visitante tem com qualquer cidade onde desembarque é o aeroporto. Se este é funcional, acolhedor, confortável, abre-se uma perspectiva favorável diante de um ambiente desconhecido. O interesse e a curiosidade não ficam contaminados por receios ou desconfianças. Por muitas décadas o Rio não teve um aeroporto à altura de sua qualificação como principal porta de acesso para o turista internacional. Com a inauguração da primeira fase do aeroporto Internacional do Galeão hoje Galeão/Tom Jobim essa deficiência foi em parte sanada. Mas o tempo passou, o aeroporto ganhou a primeira das três expansões previstas e nada mais aconteceu. A economia explodiu, a demanda cresceu e migrou para o Santos Dumont. É mais do que bem vinda, então, a decisão da Infraero de elevar a capacidade do terminal dos atuais 11 milhões de passageiros/ano para 20 milhões até o fim de 2012. Embora pareçam números imponentes, esse total ainda é inferior ao que recebeu o terminal de Cumbica, em Guarulhos: 22 milhões de passageiros em 2009. Será o suficiente?
Mesmo sem uma resposta é salutar a preocupação. O Rio não vai continuar na quarta posição entre os terminais de maior movimento do país por ter uma agenda com eventos de alto impacto para a operação aeroportuária. A Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 exigirão uma infraestrutura capaz de dar vazão rapidamente a um grande volume de passageiros chegando e saindo simultaneamente. Atualmente, o Galeão possui dois terminais, com idades, projetos e filosofias funcionais muito distantes um do outro. É preciso modernizar ambos. No Terminal 1, mais antigo, prevalece a arquitetura fechada, pesada, com pouco ou nenhum aproveitamento solar ou integração ambiental. A percepção do visitante é a de estar em uma instalação de segurança reforçada. Já o Terminal 2 ficou pronto em outra era. É claro, amplo e utiliza muita iluminação natural. No modelo anunciado pela Infraero, haverá uma expansão de 63 mil metros quadrados de área construída. É importante que tal ampliação efetivamente traga benefícios aos usuários, melhorando a ambos. Por exemplo: em comparação a aeroportos internacionais de outros países, o Terminal 1 do Galeão tem um salão de check in pequeno. Quando o volume de passageiros cresce, o espaço não dá vazão. Na chegada, o ponto crítico é a recepção de estrangeiros, que certamente ganhará mais espaço na reforma.
A União ainda discute uma eventual mudança na forma de gerenciamento do aeroporto, para o qual o governo do estado chegou a defender a privatização, diante da precariedade das instalações. Como não há tempo para que qualquer das duas saídas dê resultado positivo, a Infraero aplica recursos há muitas taxas recolhidas na utilização de serviços aeroportuários na modernização, com base na necessidade das obras. Tudo o que for planejado para melhorar deve ser feito, inclusive considerar seriamente a conclusão do anel com os quatro terminais previstos originalmente se ainda for possível dentro da expansão urbana da cidade.
É preciso considerar também, dentro da promessa de melhoria no terminal e da construção de um hotel nas cercanias, a estação do trem-bala no Galeão. Ou qualquer outro tipo de transporte rápido e moderno sobre trilhos entre o aeroporto e a cidade. Não há sinal maior de deterioração da qualidade do serviço do que a máfia de táxis que domina os dois terminais do aeroporto. Esse é um problema global, porém faltou essa novidade no pacote do Rio.
Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP