Suecos e americanos também oferecem desconto nos caças
Ministério da Defesa emite nota na qual nega que o acordo já tenha sido fechado Novo embaixador dos EUA no Brasil diz que "os dois países podem trabalhar para melhorar a franqueza", mas nega abalo nas relações
IGOR GIELOW SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Surpresos pela negociação direta do governo brasileiro com a fabricante francesa Dassault, os concorrentes na disputa pelo fornecimento dos novos caças da FAB reclamam o direito de oferecer novos preços para seus aviões. Conforme a Folha revelou ontem, a Dassault baixou em US$ 2 bilhões a oferta pelo pacote de seu caça, o Rafale. O avião, favorito do governo Lula, foi então escolhido em uma reunião entre o presidente e o ministro Nelson Jobim (Defesa) na terça passada. Ainda não há previsão do anúncio formal.
"Ficamos surpresos [com a escolha do Rafale], mas ainda esperamos o resultado final. Se houver a oportunidade, gostaria de poder oferecer preço ainda mais baixo. Estamos dispostos a isso. Sempre trabalhamos com o preço apresentado na revisão das propostas em outubro. Não tivemos mais contato com a FAB depois disso", afirmou Bengt Janér, diretor da sueca Saab no Brasil.
O caça sueco, o Gripen NG, foi o escolhido na avaliação técnica da FAB por ser mais barato, além de oferecer transferência de tecnologia e conhecimento maior por ser um projeto em desenvolvimento. Para o representante da outra concorrente, a Boeing norte-americana, "pareceu algo estranho" a França ter negociado com o Brasil após a entrega das propostas finais à FAB em outubro. "Não tivemos a mesma oportunidade, mas, se isso for possível agora, estaremos muito felizes em conversar com o governo", disse Mike Coggins.
Nota da Defesa
Ontem a Defesa ainda tentou consertar o estrago na nota em que protocolarmente negou que o acordo já estivesse fechado, dizendo que "levará em consideração outras informações enviadas pelos governos interessados e pelos proponentes". Mas o fato é que apenas a França teve tal privilégio.
Jobim defende Paris, com quem já assinou R$ 22,5 bilhões em acordos militares, como parceira estratégica. O pacote oferecido pela empresa sueca era o mais barato, de US$ 6 bilhões, incluindo aí US$ 1,5 bilhão pela manutenção por 30 anos. Isso compreende os 36 caças, logística, armamentos e toda transferência de tecnologia. O pacote da Dassault baixou para US$ 10,2 bilhões (sendo US$ 4 bilhões em manutenção). O F-18, por US$ 7,7 bilhões (US$ 2 bilhões de manutenção).
Fechado o acordo com os franceses, o valor total (quase R$ 20 bilhões na cotação de ontem) chega perto do total de investimentos previstos no PAC em 2009 -embora o pagamento seja em vários anos. Os aviões substituirão diversos modelos em uso. Os 12 Mirage-2000, a linha de frente da defesa aérea, devem parar em 2014, e outras aeronaves estão ultrapassadas. A Dassault não quis fazer comentários.
O novo embaixador dos EUA, Thomas Shannon, aproveitou ontem sua primeira entrevista em Brasília e defendeu o F-18. Questionado se faltara "franqueza" ao Brasil, foi diplomático: "Franqueza é algo bom na diplomacia, e os dois países podem trabalhar para melhorar a franqueza. O Super Hornet é um grande caça".
Mas também foi cauteloso. Considerou que se trata de uma "concorrência comercial", ligada à "diplomacia comercial", e disse que o resultado, qualquer que seja, não vai afetar a relação dos EUA nem com o Brasil nem com os outros dois competidores. Shannon se encontra hoje às 16 horas com Jobim.
No fronte diplomático, na semana que vem é a vez sueca, com a visita ao país do influente chanceler do país, Carl Bildt. Numa viagem precursora à visita do rei sueco no mês que vem, ele irá discutir o caso com seu colega Celso Amorim. Todos os concorrentes, apesar de palavras de otimismo, sabem que agora só uma reviravolta improvável tira o fornecimento dos aviões da França.
Colaborou ELIANE CANTANHÊDE, colunista da Folha
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP