Nas estrelas
Eliane Cantanhêde
Brasília
BRASÍLIA - Como estava escrito nas estrelas (e previsto pelos quatro estrelas do Alto Comando da Aeronáutica), Jobim, Amorim e uma fila de autoridades negaram a informação de ontem da Folha de que o presidente Lula e o ministro da Defesa já tenham batido o martelo a favor dos caças Rafale. Mas isso já iria acontecer mesmo e finalmente aconteceu depois que a francesa Dassault aceitou um desconto de US$ 2 bi no seu pacote, que inclui 36 aviões, logística, armamento e transferência de tecnologia para transformar o Brasil em futuro produtor de aviões supersônicos. Como também prometiam a Suécia e os EUA, mas com menores preços, entre outras vantagens.
Vale a pena até registrar o cuidado da Aeronáutica para "desmentir" sem mentir. Diz a sua nota que não houve "comunicado oficial" -o que não exclui um comunicado pessoal e verbal sobre a decisão. A questão é que os desmentidos foram protocolares, e nem o governo americano, nem o sueco, nem a Boeing, nem a Saab são bobos. Se o Brasil mandou renegociar só o preço dos franceses, depois de fechada toda a etapa de propostas e avaliações, os outros dois, a Suécia e os EUA, também querem.
Se, como dizem Jobim e Amorim, não há decisão e tudo ainda está em estudo, que se mantenha o teatro, ops!, o ritual de dar as mesmas chances, iguaizinhas, para todos. Assim são processos de seleção sérios e justos, de países sérios e justos. E que se arrogam líderes.
O resultado é que a decisão já está tomada, mas a agonia continua, com Jobim quebrando a cabeça e manejando a pena para criar argumentos lógicos, racionais e convincentes para explicar por que foi um e não o outro, indicado por quem entende desse riscado.
Ele vai precisar de muita imaginação. Do contrário, é melhor justificar a decisão numa única linha: "Vão ser os Rafale e pronto". Ou mais curto ainda: "Porque eu, Lula, e eu, Jobim, queremos".
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP