Fornecedores da Embraer buscam diversificação
Para reduzir dependência da Embraer, empresas passam a atender mercado naval, de defesa e petróleo
Michelly Chaves Teixeira
Para não sucumbir à crise que ainda afeta a aviação, empresas brasileiras do setor aeronáutico estão buscando oportunidades em outros mercados, como naval, defesa e petróleo e gás. A ideia é reduzir a dependência da Embraer, única cliente de muitas delas. No fim de 2009, a fabricante de aeronaves informou a fornecedores que comprará menos peças neste ano, numa tentativa de equilibrar os estoques no cenário de vendas menores. A expectativa é que as compras de peças programadas para 2010 caiam 23%.
A Winnstal, criada em 1998 para só atender a Embraer, nunca havia recorrido a outros mercados. Com a crise na aviação, passou a fabricar peças para as indústrias de telefonia móvel, automobilística e de equipamentos agrícolas. "Queremos baixar a 40% a representatividade da Embraer no nosso faturamento neste ano ou, no mais tardar, em 2011", diz o diretor-presidente da Winnstal, Ney Pasqualini Bevacqua, que também busca clientes nos segmentos de Petróleo e Gás, tratores e motocicletas.
A Friuli, que em 2008 tinha 90% do faturamento vinculado à Embraer, conquistou clientes nas áreas de defesa, naval e petróleo e gás e reduzir para 56% sua dependência. No ano passado, a empresa fechou contrato com a gigante do setor petrolífero Halliburton, responsável por 5% da sua receita. Agora, quer trabalhar com a Petrobrás. "A ideia inicial era diversificar a atuação no setor aeronáutico e aeroespacial. Mas depois, com a crise chacoalhando esses mercados, resolvemos abrir o leque", afirma o presidente da Friuli, Gianni Cucchiaro.
O próximo passo da Friuli será fornecer peças e projetos de ferramentais para segmentos como o farmacêutico, médico, de empacotamento e até de fraldas e absorventes. "Substituímos funcionários do setor aeronáutico por especialistas de outros ramos. Também estamos adaptando equipamentos e trocando outros. O governo tem de perceber que está havendo uma debandada das empresas da indústria aeronáutica", comenta o executivo, para quem o poder público deveria ajudar a cadeia a pagar suas dívidas com maquinário. "Não dá para esperar que 2010 e 2011 sejam melhores para o setor, temo pelo desmantelamento da cadeia aeronáutica."
O Programa Arranjo Produtivo Aeroespacial (APL) tem promovido uma série de iniciativas para mostrar às empresas que existem negócios a serem explorados em setores correlatos, até em âmbito internacional. Ao indicar oportunidades nas áreas de defesa, naval e espacial, o APL quer reter a mão de obra especializada. "Não queremos perder competência para outros setores, pois daqui a 18 ou 24 meses deve haver uma retomada da aviação. Mas também não se pode colocar todas as fichas numa empresa só", observa o coordenador do programa, Marcelo Nunes da Silva. Para ele, o ideal é que o setor aeronáutico responda por 60% da produção e do faturamento dessas empresas.
A Petrobrás está atenta ao surgimento dessa leva de profissionais altamente qualificados. Recentemente, a petrolífera fez em São José dos Campos, polo da indústria aeronáutica nacional, um trabalho de apoio ao cadastramento das empresas da região, para que se habilitem como fornecedoras. "A vantagem é que essa indústria trabalha com um nível tecnológico bastante alto, além de altos padrões de segurança e qualidade. Mas, em compensação, a mudança de foco requer certas adaptações", destaca o gerente de cadastro de Bens e Serviços de Materiais da Petrobrás, Ernani Turazzi.
A empresa de engenharia sistêmica Solutions Design se cadastrou como fornecedora, o que lhe dá condições de oferecer serviços de engenharia e desenvolvimento de dispositivos para plataformas. Não é de hoje que o vice-presidente Comercial e de Desenvolvimento de Novos Negócios da Solutions Design & Engineering, George Marcondes, busca diversificar o portfólio da empresa, que já trabalha com clientes do setor automotivo e companhias internacionais do ramo.
Essa estratégia tornou possível baixar de 100% para algo entre 65% e 70% a parcela da Embraer em seu faturamento.
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP