Crise de inteligência
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
As fragilidades dos serviços de inteligência dos EUA vieram à tona várias vezes, mas um marco foi o fracassado atentado suicida do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab contra um avião da Northwest Airlines prestes a pousar em Detroit, no Natal de 2009, reivindicado um mês depois por Bin Laden.
O serviço secreto inglês, o MI-5, tomou nota de seu envolvimento com extremistas islâmicos em Londres, até 2008. Em agosto de 2009, a CIA foi informada sobre um “nigeriano” suspeito de reunir-se com terroristas no Iêmen. Cinco semanas antes do atentado, o próprio pai, um dos banqueiros mais ricos da Nigéria, denunciou-o à embaixada dos EUA, mostrou mensagens enviadas pelo filho por celular e disse que ele estava no Iêmen.
A denúncia paterna o incluiu burocraticamente na lista Terrorist Identities Datamart Environment (Tide), do Centro Nacional de Contraterrorismo (NCTC), mas não foi considerada pelo FBI, que não o incluiu na sua TSDB (Terrorist Screening Database), muito menos na lista mais restrita SSSS (Secondary Security Screening Selection), que o sujeitaria a inspeção mais severa antes de voos, para não falar da No-Fly List, que o impediria de embarcar.
Constam nesta, porém, dezenas de ativistas que participaram de marchas contra a guerra ou a pena de morte. O cantor pop Yusuf, ex-Cat Stevens. Walter Murphy, jurista de Princeton que criticou Bush júnior em palestra. Jesselyn Radack, ex-assessora do Departamento de Justiça que objetou a um tratamento de um prisioneiro. Em abril de 2009, um voo da Air France para o México foi impedido de sobrevoar os EUA por levar o jornalista colombiano Hernando Calvo Ospina, colaborador do Le Monde Diplomatique. O incidente repetiu-se em agosto com o belga Paul-Emile Dupret, assessor jurídico da Esquerda Unida europeia. Nelson Mandela e a cúpula de seu partido ficaram na lista até julho de 2008, por terem sido tachados de terroristas pelo regime do apartheid, extinto em 1994.
Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP